Vandalismo e furtos em linhas de trens e metrôs causam prejuízo de R$ 21 milhões

Rio de Janeiro, 29 de agosto de 2018. Um agente penitenciário reage a um assalto. Durante a troca de tiros, um dos assaltantes morre e uma pessoa fica ferida.

Rio de Janeiro, 23 de maio de 2019. Três bandidos assaltam passageiros em um trem do ramal Santa Cruz. Houve reação e pessoas ficaram feridas.

Os relatos acima não são casos isolados. Eles são apenas alguns dos exemplos da falta de segurança que tem causado prejuízos para o setor metroferroviário brasileiro. Somados aos casos de vandalismo e depredação de estações e vagões, as concessionárias contabilizaram, em 2018, perdas de R$ 21 milhões.

“É uma questão de segurança pública. O que temos notado é que o índice de violência e de vandalismo tem crescido bastante. Da nossa parte, temos feito tudo o que podemos e vamos até onde conseguimos com campanhas educativas. Mas não conseguimos atuar na velocidade que a violência acontece”, afirma o vice-presidente executivo da ANPTrilhos (Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos), João Gouveia.

Segundo números da associação, em 2018 foram registradas mais de 3 mil ocorrências em todo o Brasil. Nos primeiros quatro meses de 2019, já foram mais de 980 casos. Somente na SuperVia, concessionária que atua no Rio de Janeiro, foram 47 furtos de cabos no primeiro semestre de 2019, um total de 3.132 metros de fios de cobre, somando um prejuízo de R$ 2,7 milhões para a empresa. A reposição dos equipamentos custa cerca de R$ 6 milhões por ano.

Também neste ano, a concessionária carioca registrou 39 para-brisas atingidos por pedras, 24 pichações em composições e 107 ocorrências de janelas e visores de porta arrancados. A SuperVia atende cerca de 600 mil passageiros por dia, em cinco ramais, que cortam 12 municípios da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, com 270 quilômetros e 104 estações.

Operação

Além do prejuízo financeiro às concessionárias, os atos criminosos e de vandalismo impactam diretamente no funcionamento dos sistemas metroferroviários, paralisando operações, com reflexos até mesmo no trânsito das grandes cidades. Em casos de furtos de cabos do sistema de sinalização, por exemplo, os sinais automáticos ficam inoperantes e os trens são licenciados via rádio, ou seja, os maquinistas precisam aguardar ordem dos controladores para seguir viagem. “As viagens ficam mais demoradas, prejudicando a pontualidade do serviço. O maior prejudicado é o usuário”, destaca o presidente da SuperVia, Antônio Carlos Sanches.

Ele pontua que o valor gasto para a reposição dos cabos furtados, por exemplo, poderia ser aplicado em projetos, como substituição de dormentes, pequenas reformas de estações, entre outros. Só no primeiro semestre deste ano, 20 elevadores e 20 escadas rolantes foram danificados por atos de vandalismo. No mesmo período do ano passado, foram 16 elevadores e seis escadas rolantes. “Os equipamentos são utilizados, principalmente, por idosos e pessoas com dificuldade de locomoção. Para reparar os equipamentos, estimamos que até o fim de 2019, iremos gastar, aproximadamente, R$ 100 mil.

Responsabilidades

No Rio de Janeiro, a segurança pública no sistema metroferroviário é de responsabilidade do poder público, que atua na malha ferroviária por meio do GPFer (Grupamento de Policiamento Ferroviário). Quando acontece alguma ocorrência, a segurança da concessionária mantém contato com o grupamento para que haja a notificação e assim, a polícia encaminha seu efetivo aos locais necessários. “Atualmente, o GPFer do Rio de Janeiro conta com 80 policiais, sendo que no passado era mantida por um batalhão inteiro da PM, com 400 policiais”, alerta o presidente da SuperVia.

Para a professora do departamento de sociologia da UnB (Universidade Federal de Brasília), Lourdes Maria Bandeira, o transporte público no Brasil não é priorizado como política de Estado. “Os locais são desprotegidos do ponto de vista de segurança, falta iluminação ao redor das estações e os usuários andam totalmente desprotegidos. Com a quantidade de ocorrências sem punição, cria-se a cultura da impunidade”, afirma ela.

Nota enviada pela assessoria de imprensa da Secretaria de Estado da Polícia Militar do Rio de Janeiro informa que o GPFer aplica o patrulhamento a partir dos índices criminais registrados na malha ferroviária fluminense, composta por mais de 100 estações, distribuídas em 12 municípios. A nota ainda cita que “a atuação é focada, principalmente, na prevenção e no combate a roubos e furtos aos passageiros nas estações, operando também nas rampas de acesso e plataformas de embarque. Os delitos de roubos e furtos de equipamentos urbanos (fios, cabos, placas, portões, grades, semáforos etc) são coibidos por meio de patrulhamento ostensivo de rotina ou quando da atuação diante de situações de flagrante.”

Enquanto o patrulhamento e o trabalho de segurança do governo estão focados na prevenção, a SuperVia conta com a presença de agentes nos pontos de maior incidência de problemas. Os funcionários são treinados para acionar a polícia sempre que necessário, o que muitas vezes resulta em prisões.

Vandalismo em outras partes do Brasil
São Paulo, 5 de agosto de 2019. Um vigilante da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) foi espancado e morto durante ação de fiscalização de venda de produtos ilegais.

O caso do vigilante Salatiel Gomes da Silva, de 51 anos, mostra que a rotina carioca de vandalismos, assaltos e depredações segue o mesmo “modus operandi” em outros locais do país.

Em São Paulo, além do caso de Silva, outras ocorrências têm causado problemas às operações de metrôs e trens urbanos. Em julho de 2018, arrastões nos trens da CPTM assustaram usuários e funcionários em Santo André. Antes disso, no dia 30 de junho, um maquinista já havia sido roubado quando saía do trem. Em abril de 2019, um policial civil teve uma arma furtada na Estação da Luz.

Dados apresentados pela SSP-SP (Secretaria da Segurança Pública de São Paulo) de 2018, mostram que a Estação República apresentou 50 ocorrências, o dobro do registrado em 2017. Em segundo lugar, aparece a Estação da Luz, com 38 roubos, e em terceiro lugar, a Estação da Sé, com 31 ocorrências.

A realidade da Trensurb, em Porto Alegre, segue essa mesma rotina. Com 22 estações e 43,4 km de extensão, a concessionária, que transporta cerca de 228 mil usuários por dia, também convive com o vandalismo e a insegurança. Equipamentos e áreas das estações — principalmente os banheiros — são depredados; o roubo de cabos na via gera problemas de sinalização. Entre furtos e danos, em 2018, o prejuízo foi de R$ 395 mil, e em 2019, já chega a R$ 170 mil.

“O governo acha que ações de vandalismo e furtos em estações são problemas corriqueiros. Estamos tentando sensibilizar os secretários dos estados para que nossas demandas relativas à segurança sejam atendidas, pois estão trazendo medo para os usuários e o bom funcionamento das linhas. O governo nunca fez nada para que esse tipo de violência fosse reduzido”, desabafa o vice-presidente executivo da ANPTrilhos.

Guerra civil

Além de furtos e atos de vandalismos, usuários da Supervia, no Rio de Janeiro, ainda convivem com cenas de uma guerra civil causada por constantes tiroteios. Entre janeiro e julho deste ano, foram 43 horas e 40 minutos com operação alterada, um crescimento de 270% em relação ao mesmo período do ano passado, quando foram registradas 10 paradas por causa de confrontos. Com essa “Faixa de Gaza” que margeia os trens urbanos, 174 mil passageiros foram impactados apenas pela violência causada por tiroteios, gerando uma perda de R$ 200 mil, contando os passageiros que deixaram de usar o sistema e reembolsos.

Fonte: CNT, 07/10/2019

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