A mobilidade urbana está sendo fortemente impactada pela pandemia causada pela Covid-19. Os sistemas de metrô, trem urbano e veículo leve (VLT) estão registrando uma média semanal de 74% na quantidade de passageiros transportados, sendo que alguns sistemas já registraram redução de mais de 90%. Esse cenário é reflexo das medidas de distância social, que são fundamentais neste momento para contribuir com a redução da propagação do coronavírus.
Após dois meses de medidas restritivas à circulação, gradualmente, algumas cidades brasileiras estão sendo retomadas como atividades. Ainda não se sabe ao certo como será essa adaptação, mas com certeza a vida não será como antes. Uma maneira de relacionar-nos com pessoas, modelos de trabalho, consumo de bens e serviços deve mudar e algumas áreas já estão neste processo. Por exemplo, algumas empresas já sinalizam uma extensão do trabalho em casa (home office) até o final do ano; escolas estão aprimorando suas plataformas de ensino à distância; e o comércio eletrônico cresce exponencialmente.
Entretanto, temos que pensar que essas mudanças não são e nem devem ser homogêneas, tanto para as pessoas quanto para as cidades e atividades. Essas transformações podem ser consideradas como forma específica para cada região, respeitando as características econômicas e sociais.
Esse novo modo de viver deve gerar um novo cenário nos deslocamentos, pois os principais motivos de viagens nos centros urbanos são para trabalho e estudo. A mobilidade terá que adaptar a nova realidade da sociedade e será fundamental a avaliação do planejamento urbano para que os sistemas de transporte sejam estruturados sem concorrência e sobreposição, operando com integração física e tarifária.
Os corredores estruturados devem ser pensados para desenvolver esse papel ordenado pela mobilidade, com os maiores volumes sendo atendidos pelo transporte de alta capacidade, como os trilhos e os demais modos de transporte interligados para ele. Desta forma, os sistemas se complementam, racionalizando a gestão, os custos e os modos de deslocamento, ou o que gera perspectivas de redução do custo de tarifa para os cidadãos e subsídios públicos ao transporte coletivo de uma maneira geral. Mas, para isso, é necessário o planejamento adequado, com projetos bem estruturados.
Isso faz com que cada vez mais seja necessário, já que uma crise gerada pela pandemia de coronavírus está mostrando uma fragilidade da infraestrutura de transporte e a necessidade de uma nova visão em relação ao setor por parte dos governantes. O transporte é um serviço essencial e direito constitucional do cidadão e, neste momento, é necessária uma reavaliação de tributos e encargos setoriais, novas formas de financiamento, entre outras medidas que afetam o transporte sustentável, mesmo diante de uma anormalidade excepcional, como a que estamos vivendo.
Defendemos como políticas de desenvolvimento urbano que superam os prazos de mandatos políticos, que são pensados para o futuro, levando em consideração os diferentes cenários financeiros, sociais e agora com pandemia, também sanitários.
Hoje, com a aceleração do processo de mudança de comportamento da sociedade, essas medidas são fundamentais para garantir a nova mobilidade. Como diretrizes existentes e são incluídas. Cabe agora à abertura governamental, em parceria com a sociedade, entidades de classe e iniciativa privada, para transformação da infraestrutura de transporte no Brasil.
Artigo publicado no jornal O Tempo, no dia 02 de junho de 2020.