Uma série de debates marcou o início do NT Expo Xperience, dia 24/11. O evento, que vai até hoje, levou para a abertura, na parte da manhã, o diretor do Departamento de Transportes Ferroviários no Ministério da Infraestrutura (Minfra), Ismael Trinks, o presidente da Valec, André Kuhn, e o diretor da ANTT, Davi Barreto. A mediação foi feita pela diretora de Redação da Revista Ferroviária, Regina Perez.
Davi Barreto ressaltou que o setor ferroviário será peça-chave para a retomada econômica do país. Ele falou sobre a resiliência do setor de transporte de cargas, que não sofreu quedas expressivas devido à pandemia. ”O modal se manteve ativo neste período, principalmente em razão da supersafra e da forte demanda chinesa”.
André Kuhn destacou a execução do segundo trecho da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), entre os municípios de Caetité e Barreiras, na Bahia, que possui cerca de 500 km de extensão e já está com 50% das obras finalizadas. ”O mecanismo de outorga cruzada será utilizado para garantir recursos na ordem de R$ 400 milhões no próximo ano para a compra dos trilhos necessários para a conclusão do trecho”.
Ismael Trinks afirmou que a intenção do governo federal é em equilibrar a matriz de transportes, que hoje está desbalanceada, uma vez que o modal rodoviário é responsável pela movimentação de 61% de toda a carga transportada no Brasil.
Para alcançar este objetivo, segundo Trinks, o Minfra está focado em diferentes frentes de prioridades: as prorrogações de concessões antecipadas; novas concessões; os decretos de desfazimento de bens e investimento cruzado; o Projeto de Lei do Senado (PLS) 261/2018, que estabelece um novo marco regulatório para o setor ferroviário e que permite à iniciativa privada a construção e a operação de suas próprias ferrovias, além da implantação do Centro de Excelência em Transporte Ferroviário. ”A carteira ferroviária prevê investimentos de quase R$ 70 bilhões nos próximos anos baseados nestas ações prioritárias”, disse.
Ferrovias de carga
À tarde, foi a vez de representantes das concessionárias de carga falarem sobre os planos e projetos das ferrovias. O painel contou com a presença da gerente executiva Regulatório Portos e Ferrovias da Vale, Daniella Barros, do diretor de Relações Institucionais da MRS, Gustavo Bambini, da diretora de Relações Institucionais e Regulatório da VLI, Silvana Alcantara, e do Guilherme Penin, diretor Institucional da Rumo. O encontro foi mediado pela editora da Revista Ferroviária, Bianca Rocha.
Daniella Barros comentou sobre os investimentos na área ferroviária feitos pela Vale. ”Nos últimos anos, realizamos cerca de R$ 23 bilhões de aportes no segmento. E não apenas na área mineral, na qual somos, hoje, a maior exportadora do Brasil, mas também visando outros tipos de cargas, como cargas gerais. A mesma coisa no setor de passageiros: atualmente, nós operamos os dois únicos trens regionais de passageiros, na EFVM e na EFC”.
No que refere ao futuro, os próximos passos da empresa são audaciosos. ”Nossa expectativa é realizar mais de 450 obras ao longo das ferrovias que operamos pelos próximos 10 anos. Da mesma maneira, nosso intuito é que até 2050 consigamos mudar toda a matriz energética de nossa malha de transporte, passando a adotar somente trens elétricos em nossas operações. Entre outras iniciativas que estão nos nossos planos”, complementou.
Guilherme Penin afirmou estar otimista. ”Grandes investimentos de modernização das linhas férreas começam a ser feitos agora. Nós, por exemplo, faremos aportes de modernização da Malha Paulista. Pretendemos promover também uma duplicação de mais de 100 km de trilhos na região de Campinas (SP), além de realizarmos investimentos em novas tecnologias, em infraestrutura urbana nas regiões próximas às nossas ferrovias etc”.
Gustavo Bambini disse que a MRS quer proporcionar a maior integração logística possível entre os estados e rotas nas quais já atua. ”Consequentemente, por passarmos por grandes centros urbanos, nosso objetivo é propiciar com o investimento em infraestrutura urbana e em segurança mais convergência entre as nossas ferrovias e as cidades no entorno, de forma a não prejudicar o fluxo natural dos municípios – à exemplo do que já fazemos em Volta Redonda (RJ)”, acrescentou.
Silvana Alcântara mencionou a recente inauguração de dois novos terminais da empresa: um em Guará (SP) e outro em Santos (SP). ”Para concluí-los, realizamos investimentos na ordem de R$ 207 milhões. Em ambos os casos, assinamos contratos de concessões de 30 anos”, disse.
Para o futuro, a executiva adiantou que a companhia planeja realizar novas inaugurações. ”Seguimos realizando aportes em outras unidades da VLI ao redor do Brasil, como em nosso corredor ferroviário localizado em Uberaba (MG), no qual estamos investindo na ampliação. As obras, que receberam recursos de R$ 63 milhões e geraram cerca de 300 empregos em todo o processo, devem ser concluídas já em maio de 2021. Outra unidade que também está sendo ampliada é a da cidade de Palmeirante (TO)”, exaltou.
Shortlines
Outro destaque do primeiro dia do NT Expo Xperience foi o painel que abordou as shortlines (linhas que oferecem trajetos curtos e de custos mais baixos) no setor ferroviário. Para falar do tema, foram quatro convidados, entre eles, o senador Jean Paul Prates (PT/RN), relator do PLS 261/2018.
”Entre os fatores que defendemos nesse projeto é o de maior segurança jurídica aos investidores, trazendo este quesito para o âmbito legal. Criamos também o papel do autorregulador e uma espécie de categorização para diferenciar os tipos de serviços que serão prestados, que consideramos pontos muito importantes neste projeto”, disse Prates.
Quem também esteve presente foi o coordenador de gestão ferroviária do Ministério da Infraestrutura, Luis Felipe Arrussul de Melo. Para ele, o PLS 261/2018 será uma revolução no setor. ”O governo federal apoia esse projeto e está alinhado com ele. E digo mais, as ferrovias não são um projeto de governo e nem de partido, elas são um patrimônio histórico do país, tanto quando o assunto é o transporte de cargas sobre trilhos quanto o de passageiros. Nós, do Ministério da Infraestrutura, seguiremos em conjunto com as demais entidades do setor para desenvolver ainda mais este mercado no Brasil”, afirmou.
O secretário geral da Associação Latino-Americana de Ferrovias (ALAF), Jean Pejo, disse, por outro lado, que o grande desafio agora é convencer o mercado de que o modelo de shortlines é viável e competitivo. ”Todo o nosso trabalho agora é convencer o mercado de que este é um bom negócio e de que vale a pena investir nele. Mas não tenho dúvidas de que estamos no caminho certo e de que esse programa de short lines será implementado no país, trazendo mais negócios, geração de empregos, inclusão social e muito mais. Eu acredito no Brasil e no futuro desse setor”, exaltou.
Já o diretor da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Alexandre Porto, é mais cauteloso. Para ele, é necessário, realmente, uma sinalização concreta do poder público em prol do desenvolvimento do setor, como o avanço da PLS 261/2018, pois somente assim acredita que será possível começar a regular tudo corretamente. ”Precisamos modernizar muito o marco regulatório do setor e isso casa bastante com a proposta da PLS 261, que visa simplificar os procedimentos do segmento”, completou.
Wireless no setor de infraestrutura
Fechando a programação do primeiro dia de NT Expo Xperience, o papel da tecnologia wireless na convergência da infraestrutura de comunicações vitais e não vitais no processo de digitalização das ferrovias foi o destaque. Para falar sobre o assunto, o evento recebeu o Head of IoT Sales Latam da Cisco, Rodrigo Linhares.
Segundo ele, digitalização tem a ver com os benefícios da tecnologia em reduzir erros nos processos e na automação como ferramenta para o ganho de eficiência operacional e lucratividade dos negócios. ”O que estamos vendo é uma convergência das áreas de TI com as de operações das empresas e diferentes setores econômicos, levando a digitalização e a automação a novos mercados além das áreas internas e administrativas da companhia”, disse.
”É aí que surge a tecnologia wireless, sendo capaz de suplementar o bom funcionamento de diversos dispositivos e equipamentos que precisam estar cada vez mais conectados, permitindo o acesso a dados em tempo real. Existem várias tecnologias neste sentido, mas a que se torna bastante efetiva para o setor ferroviário é a chamada fluidmesh, que traz uma alta capacidade de mobilidade, permitindo que a locomotiva trafegue em alta velocidade, até cerca de 300 km por hora, sem a perda de sinal por nenhum segundo sequer, mantendo a conexão com estabilidade e confiabilidade”, finalizou.
Fonte: NT Expo Xperience, 25/11/2020