Trens turísticos na pandemia: conheça novos roteiros e medidas de segurança

Seja de Maria Fumaça ou de locomotivas mais modernas, os apitos do turismo ferroviário continuam sendo ouvidos pelo Brasil. Mesmo com os solavancos provocados pela pandemia, o segmento tenta se manter nos trilhos, com mais regras de segurança sanitárias, adaptações nas programações e até novas opções de passeios. Inaugurados no final de 2020, os serviços do Trem Caiçara, no litoral do Paraná, e do Trem Republicano, no interior paulista, põem mais calor nas caldeiras desse tipo de atração.

Percorrendo o trecho de 16 quilômetros entre Morretes e Antonina, o Trem Caiçara foi inaugurado em 20 de novembro cheio de significado histórico. Fabricada em 1884, a Maria Fumaça que puxa seus dois vagões de passageiros foi a primeira em operação na ferrovia Curitiba—Paranaguá, da qual este trecho faz parte, no final do século XIX.

O passeio, apesar de ser independente, pode servir de continuação para o do Trem da Serra do Mar, tradicional roteiro entre Curitiba e Morretes. As saídas acontecem aos sábados e domingos, com bilhetes a R$ 60 (ou R$ 75, com o retorno rodoviário), que podem ser comprados no site abpfsul.com.br.

História também não falta ao Trem Republicano. Durante os 50 minutos de duração do trajeto, entre as cidades de Itu e Salto, em meio a paisagens naturais, como a do Rio Tietê, os passageiros aprendem mais sobre as articulações do movimento republicano brasileiro, realizadas por políticos e fazendeiros naquela região do interior de São Paulo.

A história é apresentada tanto pelos guias a bordo quanto por atores que interpretam personagens reais, como Prudente de Morais. O ex-presidente, aliás, batiza um dos três vagões da composição, que tem até espaço pet friendly. São duas saídas por dia, de sexta-feira a domingo, com bilhetes a R$ 77, o trecho. Vendas pelo site tremrepublicano.com.br.

— Temos tido uma ótima resposta do público, inclusive de pessoas que acabam conhecendo a região por causa do trem. Mas as dificuldades ainda são muitas, principalmente pela incerteza que esse “abre e fecha” da pandemia causa nas reservas — comenta Adonai Aires de Arruda Filho, diretor da Serra Verde Express, que opera o Trem Republicano e o Trem da Serra do Mar.

Adaptações à crise

Presidente da Associação Brasileira de Operadores de Trens Turísticos (ABOTTC), ele lembra que a maioria dos roteiros foi suspensa por pelo menos três meses, no começo da pandemia. Algumas das linhas mais populares ainda enfrentam o efeito da crise. O Trem da Serra do Mar deixou de circular nos dias de semana em plena alta temporada, saindo apenas de sexta a domingo, além de ter cancelado o tradicional Bier Train, uma excursão ferroviária com cerveja artesanal, que contou com nove edições em 2019.

Em Minas Gerais, outro importante centro do turismo ferroviário, o Trem Turístico São João Del Rei —Tiradentes, operado pela VLI Logística, retomou as atividades em 5 de fevereiro, após ter suspendido as atividades em 19 de dezembro por causa da alta de casos na região. O Trem da Vale, entre Ouro Preto e Mariana, interrompeu as operações em março de 2020 e ainda não tem data para voltar. Segundo a Vale, a composição está sendo revitalizada. Em São Lourenço, no sul do estado, o Trem das Águas também aproveitou o período de inatividade para reformar alguns vagões.

— Muitos operadores de trens turísticos aproveitaram a parada para reforma e manutenção. Muitos trabalhos que são chatos de fazer com o trem circulando puderam ser feitos com mais tranquilidade, e agora a estrutura, de forma geral, está bem melhor na maioria dos lugares. — conta Bruno Crivelari Sanches, diretor-presidente da Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF).

A entidade, uma organização civil sem fins lucrativos, é responsável pela operação de nove linhas ferroviárias turísticas no país, entre elas o Trem Caiçara, o Trem das Águas, o Trem da Serra da Mantiqueira (em Passa Quatro, Minas Gerais) e a Estrada de Ferro de Santa Catarina (Apiúna).

Medidas de segurança

Para circular, os trens precisaram adequar suas medidas de segurança sanitárias, como ocupação máxima de 50%, janelas abertas, reforço na higienização das superfícies a cada troca de passageiros, aferição de temperatura na entrada e uso obrigatório de máscaras por todos a bordo.

Em alguns casos, as restrições impostas pelo risco de contaminação levam a adaptações mais profundas, como acontece com a Maria Fumaça Trem do Vinho, que faz o roteiro Bento Gonçalves—Garibaldi—Carlos Barbosa, na Serra Gaúcha. Antes da pandemia, um dos pontos altos do passeio era a degustação de vinhos e sucos de uva produzidos na região e servida em cada uma das três estações. Depois do novo coronavírus, para evitar aglomerações, as bebidas passaram a ser servidas dentro dos vagões.

Mas agora, num momento em que esta área do Rio Grande do Sul encontra-se em estágio de alerta máximo contra a Covid-19, a solução foi entregar a bebida num kit para ser consumido em casa ou no hotel. Outra medida mais drástica relativa a esta fase, chamada de bandeira preta, é a redução da ocupação máxima permitida de 50% a 25%.

— Mudamos também a dinâmica das nossas apresentações musicais — conta Andréia Zucchi, diretora-executiva da Giordani Turismo, empresa que opera a atração. —Diminuímos o número de pessoas nos corais, e agora os músicos não chamam os passageiros para dançar. Há quem diga que ficou frio, mas é uma questão de segurança.

Fonte: oglobo.globo.com, 25/02/2021

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