O ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, defende que o debate sobre impactos ambientais da Ferrogrão é cortina de fumaça e que entidades ambientalistas e especialistas que se opõem ao projeto são bancados por concorrentes que temem perder receita após o início das operações da ferrovia.
“A questão da Ferrogrão não tem nada a ver com meio ambiente, o meio ambiente é uma cortina de fumaça”, afirmou o ministro, em evento virtual na noite de sexta (23). “A Ferrogrão vai ser o maior regulador de tarifas do Brasil, então aqueles que vão competir com a Ferrogrão não querem a Ferrogrão.”
Uma das prioridades do ministério, a ferrovia liga o Mato Grosso ao Pará, com o objetivo de escoar a safra de grãos do Centro-Oeste por portos da região Norte. Tem 933 quilômetros de expansão e, pelas contas do governo, vai custar R$ 21,5 bilhões — R$ 8,4 bilhões apenas para colocar a linha férrea em operação em 2030.
O governo pretende leiloar o projeto ainda em 2021, mas antes precisa do aval do TCU (Tribunal de Contas da União) e de derrubar liminar no STF (Superior Tribunal Federal) que suspendeu mudanças nos limites da Floresta Nacional do Jamanxim para a passagem da ferrovia.
A Ferrogrão enfrenta resistência ainda do Ministério Público Federal, que questiona em ação judicial a oferta do projeto ao mercado antes de consulta a povos indígenas afetados.
No evento desta sexta, que foi promovido pelo Sinduscon-PA (Sindicato da Indústria da Construção do Estado do Pará), o ministro da Infraestrutura disse que os poderes econômicos por trás da oposição ao projeto usam “inocentes úteis” em seu esforço para barrar o leilão.
Sem citar nomes, ele afirmou que entre os opositores estão concorrentes dos produtores de grãos do Centro-Oeste e operadores de ferrovias que hoje cobrariam frete equivalente ao rodoviário para transportar a produção aos portos. “O jogo é muito claro”, afirmou.
Há hoje dois outros projetos ferroviários com interesse na produção agrícola do Centro-Oeste. A Fico (Ferrovia de Integração do Centro-Oeste), da Vale, que vai ligar o Mato Grosso à Ferrovia Norte-Sul; e a Malha Norte, da Rumo, que liga o estado ao porto de Santos.
“Eu vou lá, patrocino uma ONG, pego um indígena, boto debaixo do braço, vou lá na Redação do jornal para dar o pau, dizer que a ferrovia é ruim. Ou contrato lá um consultor para dizer que a ferrovia não faz sentido, pago o cara para escrever um artigo no [jornal] Valor Econômico”, disse.
Na última quarta (21), a Folha antecipou estudo do consultor Cláudio Frischtak, da Inter.B, que aponta falhas no projeto de engenharia da ferrovia e vê riscos de aportes bilionários pelo Tesouro para concluir as obras.
Frischtak, que já publicou artigo no Valor Econômico sobre o tema, calcula que o custo da ferrovia ficaria cerca de R$ 20 bilhões acima do estimado. O contrato prevê aportes em caso de entraves socioambientais e garante a demanda ao concessionário, mas o governo diz que não aportará dinheiro por custos adicionais durante a construção.
O ministro disse ainda ver como um contrassenso o discurso ambiental contra o projeto, que, segundo o governo, reduziria as emissões de gases do efeito estufa e o tráfego de caminhões associado ao escoamento da produção agrícola do Centro-Oeste.
“Como uma ferrovia não é sustentável? Só no Brasil”, disse ele. O ministério afirma ainda que o projeto funciona como um corredor verde na Amazônia, reduzindo os possíveis impactos da ampliação do tráfego de caminhões sobre a área de influência da BR-163, hoje a principal rota dessa produção.
Tarcísio defende que a Ferrogrão é um projeto transformador para a logística brasileira e que já existe um grupo de empreendedores interessados na concessão, que incluiria grandes operadores de ferrovia e fundos de investimento internacionais.
“Se não fizesse sentido, a gente já tinha abandonado [o projeto]”, disse o ministro. “Sob todos os aspectos, sob todos os pontos de vista, a Ferrogrão é um grande negócio. E ela vai acontecer”, concluiu.