Gigante do ramo logístico e ferroviário do país e parte do grupo Cosan, a Rumo enviou à Polícia Federal no último sábado, 19, uma lista de pagamentos suspeitos feitos pela América Latina Logística, a ALL, empresa incorporada pelo grupo em 2015. A petição dos advogados da Rumo foi direcionada ao delegado Wedson Cajé Lopes em um inquérito que investiga o senador Renan Calheiros (MDB-AL), após VEJA revelar que a apuração mira um pagamento de cerca de 700.000 reais da ALL a uma empresa de Victor Colavitti, lobista ligado a Milton Lyra, apontado como operador financeiro de Renan.
Todos os sete pagamentos apresentados pela companhia à PF, que totalizam 4 milhões de reais, foram feitos entre novembro de 2013 e janeiro de 2014, na gestão do então CEO da ALL, Alexandre Santoro. O executivo, que deixou a empresa em 2015, hoje é CEO global da International Meal Company, dona de marcas como a rede de lojas Frango Assado. A lista entregue à PF, diz a Rumo, já havia sido apresentada ao Ministério Público no âmbito da Operação Sépsis e inclui repasses “atípicos”, em que “não foi possível à atual gestão identificar a existência de contrapartida ou efetiva prestação de serviços por parte das empresas destinatárias de aludidos valores”.
VEJA mostrou que a PF apura “possível atuação conjunta de Milton Lyra, Alexandre Santoro e Richard Klien para obter as alterações legislativas almejadas pelos empresários”. As suspeitas são de que houve pagamento de propina a Renan Calheiros por meio de Lyra em troca de benefícios na MP dos Portos e em outra MP, que desonerou a folha de pagamento a 14 setores da economia e alterou a contribuição patronal do INSS. Os dois textos tramitaram no Senado em 2013, quando Renan era presidente da Casa. Os defensores da Rumo afirmam que o conteúdo da reportagem “se reveste de gravidade” e “afeta de forma direta” a imagem da empresa, e passam a citar os repasses sob suspeita.
Estão incluídos na petição dois pagamentos, de 375.000 reais cada, feitos pela ALL Malha Norte à Link Projetos, de Colavitti, em 26 de novembro e 19 dezembro de 2013 (a PF havia citado dois repasses de 351.937 reais); dois desembolsos de 375.000 reais cada, feitos nos mesmos dias à Brito Par pela ALL Malha Paulista; uma transferência de 834.970 reais à Porte Projetos pela ALL Malha Sul em 18 de dezembro de 2013; e transferências de 848.320 reais e 816.710 reais à mesma Porte Projetos pela ALL em 25 de novembro de 2013 e 10 de janeiro de 2014. O dinheiro foi repassado à Link e à Brito Par a título de “serviços de consultoria e análise tributário-contábil”, enquanto os valores à Porte Projetos estão sob a rubrica “contratação de serviços de engenharia (locação de equipamentos)”.
“Diante das novas informações que tomaram o noticiário a respeito de pagamentos alegadamente ilícitos feitos no âmbito ALL, por membro de sua antiga administração, ou seja, em período anterior à assunção de sua atual gestão, a peticionária entende relevante trazer essas informações ao conhecimento de Vossa Excelência, sobretudo em face da proximidade temporal e circunstancial entre os fatos que circularam na mídia recentemente e os pagamentos atípicos identificados anteriormente pela empresa, que podem tanto interessar à investigação em que foram noticiados originalmente, quanto a este procedimento que agora se tem conhecimento”, diz a Rumo à PF.
Além da apuração sobre os pagamentos feitos na gestão de Alexandre Santoro na ALL, a PF também citou entre as diligências pendentes no inquérito as oitivas de Santoro, Renan, Klien e Lyra.