Após mais um dia de caos nos trens do Rio, o governador do Rio Claudio Castro anunciou a suspensão da negociação do aumento da tarifa da Supervia, chamando de “cara de pau” o pedido de reajuste. A interrupção das tratativas será até “normalizarem o serviço”. Castro ainda afirmou que a concessionária mentiu ao dizer que 38 km de cabos foram furtados em 2021 e que esse seria um dos principais fatores que causavam os problemas no modal. Nesta sexta-feira o governo do estado também fará uma vistoria técnica em um dos ramais dos trens e a Polícia Militar começará um plano de retomada de 12 estações ” que são consideradas perdidas”.
— Não vai sobrar para o usuário. Vai melhorar o serviço porque se quiserem a recomposição terão que melhorar a vida do usuário na prática. Se não, eles que vendam a concessão e a gente negocia com o próximo. Queremos entender quais são os problemas. Está claro que não é furto de cabos. Se 38 km tivessem sido furtados, não tinha nenhum trem em circulação. Esse pode ser um dos problemas. O estado quer saber o que está acontecendo — disse.
Castro afirmou que, apesar de estar previsto em contrato, uma intervenção do governo nos trens nunca foi pauta das discussões. As vistorias também serão feitas em oficinas da Supervia, onde são realizados os reparos nas composições.
— É um absurdo que uma concessionária submeta a população do Rio ao fechamento de 54 estações e imponha sua incapacidade operacional ao cidadão. Uma série de falhas operacionais tem acontecido: falta manutenção, conservação, composição sem controle sobe na plataforma, viagens são interrompidas por queda na rede aérea, porta dos vagões não fecham e atrasos são rotina dos usuários. Os números divulgados pela concessionária não se sustentam quando confrontados com os registros oficiais da Agenstransp.
O governador criticou a forma que a Supervia registra os casos de furtos de cabos, dizendo que a concessionária “deliberadamente” faz o registro “em lote”, o que dificulta, segundo Castro, o trabalho da Polícia de investigação e “incapacita” o poder de resposta do estado.
— As forças de segurança alertaram a concessionária o baixo efetivo de guarda patrimonial. Material de alto valor muitas vezes é protegido por um simples cadeado. A segurança pública não será utilizada como desculpa para problemas da concessionária — afirmou.
Procurada, a Supervia ainda não se pronunciou.
Uma interrupção a cada 18 horas
Dados da Agetransp mostram que, entre janeiro e fevereiro deste ano, a Supervia teve registro de uma ocorrência com interrupção da circulação a cada 18 horas. Foram 77 ocorrências entre os dois meses. O ramal mais afetado durante o início deste ano foi o de Japeri, com 27 ocorrências, seguido dos ramais de Saracuruna e Santa Cruz, com dez e oito ocorrências, respectivamente.
Em comparação ao ano de 2021, quando 365 ocorrências da Supervia foram registradas pela agência, é possível observar que o ramal Japeri já era o mais afetado. Foram 102 ocorrências no ano passado. Entre os principais motivos declarados estão os relacionados à segurança pública, relatado em 216 casos.
As outras duas principais razões para ocorrências com trens da Supervia são o acesso indevido às vias e o vandalismo. No entanto, registros com essa natureza só foram identificados nos ramais Santa Cruz, Belford Roxo, Saracuruna, Deodoro e Gramacho.
De acordo com o MetrôRio, ainda não houve aumento significativo na procura de pessoas pelos serviços da Linha 2 — que liga a Pavuna ao bairro de Botafogo — em decorrência das constantes ocorrências com os trens da Supervia. Segundo a área técnica da concessionária, o fluxo de passageiros na linha segue em normalidade.
Fonte: O Globo, 08/04/2022