Viagens por transporte público caíram 21%

Viagens por transporte público caíram 21% na Região Metropolitana do Rio entre 2019 e 2023

A queda do uso do transporte público em geral, segundo dados da Semove — a federação das empresas de ônibus do estado —, com base no sistema de bilhetagem eletrônica, indicam que o número de viagens caiu de 147 milhões para 115 milhões (21,7%), em média, por mês, de 2019 (antes da pandemia) para 2023. No caso dos ônibus convencionais, a redução foi de 116 milhões para 85 milhões. Houve queda ainda no número de passageiros de metrô (de 11,8 milhões para 9,9 milhões), barcas (de 1,2 milhão para 747 mil) e trens (de 7,6 milhões para 4,9 milhões) em quatro anos. O dado está na pesquisa do Programa de Engenharia de Transportes (PET) da Coppe/UFRJ.

Passageiros deixam a Central do Brasil em carros de aplicativos

Passageiros deixam a Central do Brasil em carros de aplicativos — Foto: Gabriel de Paiva/Agência O Globo

Na contramão, os passageiros de vans aumentaram (de 9,5 milhões para 12,6 milhões). Os do VLT ficaram estabilizados em cerca de um milhão por mês.

Professora do Instituto Militar de Engenharia (IME) e do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet), Cintia Machado de Oliveira, que também esteve à frente da pesquisa, assinala que é preciso atender toda a população:

— Transporte tem que ter qualidade e preço justo para todos. Caso contrário, não se resolve uma questão que afeta a todos nós.

Os pesquisadores defendem a implementação de melhorias no transporte público como um dos princípios para tornar a mobilidade mais sustentável e reduzir os congestionamentos.

Segundo a pesquisa da Coppe, uma das razões apontadas por aqueles que mudaram a forma de deslocamento foi a pandemia. As três principais são o desemprego (23,61%), a mudança de local de destino (19,61%) e a adoção de regime híbrido ou remoto de trabalho (19,35%). Mas, quando se analisa apenas o ônibus convencional — ainda responsável por 74% das viagens este ano —, o tempo de percurso continua na frente como motivo para a migração. Outros pontos citados são a demora nos pontos, a deficiência no conforto físico e a falta de segurança.

A empresária Gabriella Pereira, de 29 anos, está entre os que aderiram ao aplicativo, independentemente de quanto vai pesar no bolso. Na volta de uma viagem para fazer um curso em São Paulo esta semana, chamou um carro para voltar do Aeroporto Santos Dumont para casa, na Barra, uma viagem que custa em média R$ 85. Mesmo tendo ao lado o VLT (R$ 4,30), que a levaria até o metrô (R$ 6,90), ela optou por pagar R$ 73,80 a mais.

— Prefiro pedir um carro de aplicativo, porque me deixa na porta de casa. É a melhor opção, principalmente à noite. Eu me sinto muito mais segura — contou.

O corretor Ítalo Cardoso tenta economizar com aplicativo, o que nem sempre consegue.

— Desde a quarentena, parece que andar de ônibus é muito ruim. Procuro dividir com alguém o Uber para não ficar muito caro, ou até faço o esforço de pagar a mais. É como se fosse um mimo para eu mesmo — brinca. — Acho que isso também aconteceu porque, no isolamento, a gente evitava o transporte coletivo. Então, ficou o costume.

Mais de 14% dos cariocas mudaram a forma de deslocamento no pós-pandemia na Região Metropolitana

Políticas públicas

O aumento mais significativo dos que migraram para o aplicativo, entre 2019 e 2013, está entre aqueles que já não usavam ônibus convencional, mas outros meios de locomoção, como trem, metrô e BRT: chegou a 5,8 pontos percentuais (de 5,8% para 11,63%). Entre aqueles que se locomoviam a pé — 21,74%, sem contabilizar os usuários de ônibus, em 2019, e 12,21%, em 2023 — a queda foi de mais de 9 pontos percentuais.

— Muitos deles podem estar, hoje, usando carro de aplicativo para chegar a um transporte público — supõe a professora Cintia Machado de Oliveira.

No caso dos passageiros só de ônibus convencional (sem integração com outro meio de transporte), a queda foi de 67,68% para 65,61% em quatro anos, o que representa menos 14 milhões de viagens por mês. Gerente de Mobilidade Urbana da Semove, Eunice Horácio Rodrigues lembra, no entanto, que os ônibus também perderam passageiros que faziam integração com outro modal.

— Precisamos de políticas públicas que nos apoiem. Preciso, efetivamente, de uma condição de infraestrutura melhor — avalia Eunice, acrescentando que, como o município do Rio, outras cidades necessitam subsidiar o transporte coletivo para que as empresas renovem suas frotas.

Fonte: https://oglobo.globo.com/rio/noticia/2023/12/08/viagens-por-transporte-publico-cairam-21percent-na-regiao-metropolitana-do-rio-entre-2019-e-2023.ghtml, 08/12/2023

 

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