Em Pindamonhangaba, no estado de São Paulo, o Jornal Nacional visitou a oficina do Seu Vavá.
O ano de 1912 é o de fabricação. Mas, pelo estado, dá para jurar que é a última data em que fizeram uma manutenção no carro de passageiros inglês.
“É uma tristeza porque ele é uma testemunha do abandono das ferrovias no Brasil. Então, é realmente muito triste ver”, afirma Ayrton Camargo e Silva, presidente da Estrada de Ferro Campos do Jordão.
As ripas do teto e as placas do piso estão beirando o apodrecimento e os passageiros hoje são outros. A missão de trazer as pessoas de volta é do seu Vavá. Que responsa!
“Quarenta anos de praça. Cerrando, martelando, tirando medida, fazendo projeto, detalhes de peças. E meus netos vão ver isso”, diz o marceneiro Osvaldo Luiz Manckel, o Seu Vavá.
Se vão! Porque para um vagão de madeira centenário, o salvador só podia ser um marceneiro gente boa e bem das antigas.
Quem é capaz de dizer que pelas experientes mãos do seu Vavá e do time dele, um vagão quase perdido pode ganhar uma vida toda nova? Voltar a ter um verniz brilhante, bancos de madeira maciça e piso que dá até gosto de ver? Quem diria que esse vagão já foi como aquele e voltou para os trilhos. Não mais para ficar em uma garagem até apodrecer, mas voltar a transportar passageiros exatamente com o mesmo charme de um século atrás.
Dos seis tipos de madeira da fabricação, eles tiveram que substituir dois, porque estão em extinção. Todas as pecinhas de bronze são originais, ao contrário dos dez mil alinhadíssimos novos parafusos que ajudaram a deixar esse tataravô parecendo um neném. Um trabalho mega artesanal que exige gente de confiança. E onde mais a gente encontra isso, senão na nossa própria família?
“Ele marca em cima, mas chato ele não é não. Ele tem um coração muito grande, um coração bom”, diz o marceneiro Douglas Fabiano Manckel, filho do Seu Vavá.
“Não pode chamar de papai, não. É senhor Osvaldo”, conta Seu Vavá.
E falta bem pouco para o senhor Osvaldo e companhia terminar o trabalho. E olha que esse nem é o primeiro que eles restauram. Pelas mãos dessa família, outras já tão sendo transportadas nos velhos novos vagões.
Júlio César Marins Ferraz, diretor de operações: Cada carro você leva em torno de um ano para fazer um restauro. Então você realmente conta aí com aproximadamente cinco anos para ter toda a frota
Jornal Nacional: Quantos carros?
Júlio César Marins Ferraz: Cinco.