Primeiro dia útil com o fechamento do Mergulhão da Praça 15 e proibição de carros na Av. Rio Branco tem trânsito travado e cariocas sofrem para chegar ao serviço
Rio – O prefeito Eduardo Paes previu na sexta-feira que a cidade iria parar ontem, no primeiro dia útil em que o Mergulhão da Praça 15 fechou. Ele acertou. Afinal, não era preciso ser vidente para saber que esta interdição, somada à mão dupla na Avenida Rio Branco, extinção da Perimetral e mudanças em diversas vias do Centro, faria o trânsito entrar em colapso.
Durante a manhã, moradores de São Gonçalo, da Baixada e da Ilha do Governador, por exemplo, levaram mais de três horas para chegar ao Centro, e, em alguns casos, até o triplo do tempo normal. A volta para casa foi um pouco melhor, mas as filas nos terminais de ônibus eram maiores do que habitualmente.
A Avenida Presidente Vargas parou durante toda a manhã em direção à Candelária e os engarrafamentos se estenderam pela Francisco Bicalho e Avenida Brasil, até a altura da Penha. Para evitar a Ponte, que também estava parada, os moradores de Niterói e São Gonçalo foram em massa às barcas. A concessionária CCR Barcas registrou um aumento de 33,5% no fluxo de passageiros até as 10h — na comparação com a média de segundas-feiras de fevereiro do ano passado.
O secretário municipal de Transportes, Carlos Roberto Osório, disse que, nos próximos dias, a situação do trânsito deve melhorar e que a prefeitura está fazendo ajustes. “A volta para casa já foi melhor do que o período da manhã. Tivemos alguns problemas na Presidente Vargas e estamos estudando ajustes. Outra coisa que prejudicou foi a falta de sincronização nos sinais da Rio Branco. Isso já vai ser acertado. É claro que vamos continuar numa situação de contingência, mas dá para melhorar em relação ao que aconteceu neste primeiro dia”, analisou, agradecendo à colaboração das pessoas que deixaram o carro em casa e usaram o transporte público.
Já o especialista em Mobilidade Urbana da Uerj, Alexandre Rojas, define as mudanças no Centro como “um trabalho de amador.” Para ele, a derrubada da Perimetral foi uma “insanidade”. “Agora não tem mais jeito. Tem que ir até o fim. E a população tem que se acostumar com isso. Não vai melhorar tão cedo”, prevê.
Moradores da Ilha do Governador, os namorados e vendedores Raphael José, 29 anos, e Débora Lopes, 21, levaram três horas para chegar ao Centro e tomaram advertência no trabalho. Segundo eles, a mesma viagem leva uma hora normalmente. “Pegamos a linha 323 e já tinha engarrafamento na Brasil. Ligamos para o trabalho e avisamos, mas levamos três horas para chegar. Tínhamos que estar na loja às 8h e só conseguimos chegar às 10h. Nunca vi o trânsito desse jeito”, disse Débora.
A mudança nos pontos de ônibus foi outro motivo de reclamação. A analista de seguros Cristina Parente, 47, desceria na Rio Branco, mas teve de desembarcar na Presidente Vargas. “O trânsito estava horrível. Tiraram os carros da Rio Branco, mas também grande parte dos ônibus. Só serviu para nos prejudicar”, reclamou.
Equipes do DIA testam metrô, trem e ônibus para chegar ao Centro
O DIA foi verificar a situação do quem tentava chegar ao Centro na manhã de ontem em três meios de transporte diferentes: trem, metrô e ônibus. Uma das equipes de reportagem embarcou às 7h30, em um ônibus da Linha 2310 (Bangu – Largo da Carioca). O ponto estava mais vazio do que o habitual e o coletivo partiu ainda com muitos assentos disponíveis, o que também não é usual. De acordo com alguns passageiros, muitos preferiram utilizar o trem para fugir do anunciado engarramento rodoviário.
As retenções começaram na Rodoviária Novo Rio. De Bangu até lá, o percurso de 35 km foi feito em uma hora e 10 minutos, mas a continuação até a Carioca (5 km) levou mais uma hora — o tempo total foi de 2h10. Segundo o motorista Arnaldo Santos, em condições de trânsito muito ruins, o tempo máximo é de 1h30.
No metrô, o problema encontrado pela equipe foi a superlotação na Linha 2. As composições, já bem cheias no horário da manhã, receberam pessoas que fugiam dos ônibus para evitar o trânsito. A aposentada Maria Teresa de Melo, 73, foi uma delas. “Quando eu estava entrando no ônibus, o próprio condutor falou do engarrafamento para o Centro. Daí, vim para o metrô enfrentar essa multidão aqui dentro”, reclamou. A concessionária informou que houve aumento de 3,6% na demanda até as 17h. A equipe que embarcou na Pavuna, às 8h20, chegou à estação Carioca às 9h30.
A equipe de reportagem que saiu de Nova Iguaçu, em um trem do ramal Japeri às 7h50, chegou às 8h57 na Central. A composição não estava mais cheia do que o normal. “Devem ter achado que o trem ia lotar muito e se arriscaram no metrô e no ônibus. A viagem foi rápida, mas poderia ser ainda melhor se o trem não parasse tanto entre as estações”, comentou a doméstica Elisabeth Ferreira, 41, que saiu de Queimados. A SuperVia informou que, até as 9h, recebeu 2% a mais de passageiros em relação à média.
UM VERDADEIRO PATRIMÔNIO DO RIO
Com dois quilômetros de extensão, a Avenida Rio Branco — por onde circulam 500 mil pessoas por dia — foi inaugurada em 1905 pelo prefeito Pereira Passos, que a batizou de Avenida Central do Brasil. A via foi projetada pelo engenheiro Paulo de Frontin e ganhou o atual nome em 1912, em homenagem ao Barão do Rio Branco.
Coração financeiro do Rio e um dos redutos mais importantes do Carnaval carioca, a Rio Branco sempre foi palco de manifestações culturais e políticas, como a histórica Passeata dos Cem mil, em 1968, pelo fim da censura e pela liberdade de expressão. Desde 2013 também tem sido ocupada por grandes protestos contra o preço das passagens de ônibus e outras causas.
Quem a cruza de ponta a ponta tem uma aula de história. “A via está em sua quarta geração arquitetônica”, ressalta Augusto Ivan Pinheiro, autor de vários livros sobre urbanismo e preservação do patrimônio do Rio. Seus imóveis vão desde o estilo eclético, como os do Theatro Municipal e Câmara de Vereadores, passando pelo art déco, moderno, até pós-moderno, como o Edifício RB1.
Segundo o presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) no Rio, Pedro da Luz Moreira, a Rio Branco marca o fim do perfil colonial para ganhar ares europeus, com forte influência francesa e italiana. Para ele, a via deveria ser “tratada com mais respeito”. “Já criaram vários projetos, mas sua função, história e valor cotidiano estão sempre sendo ignorados”, diz.
O empresário Rhuy Gonçalves, 78 anos, síndico do Edifício Avenida Central, o principal da Rio Branco, está preocupado. “Os impactos negativos já estão sendo sentidos pelos consultórios de ortopedia do prédio. Com os táxis não podendo parar, pessoas em cadeiras de rodas não têm como chegar aqui”, lamenta. O prédio possui 194 lojas de informática e consultórios, que geram 14 mil empregos e receita estimada em R$ 15 milhões anuais.
Fonte: O Dia, 18/02/1953
Reportagens Athos Moura, Daniel Pereira, Diego Valdevino, Francisco Edson Alves e Paloma Savedra
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