Problemas na área de transporte de alta capacidade implicam estratégias suprapartidárias e ações administrativas integradas, no terreno das políticas de Estado.
O Rio tem enfrentado algumas de suas demandas na área de mobilidade urbana com fortes investimentos em transportes de alta capacidade. Caso dos BRTs e da modernização do sistema viário, com a ampliação de vias em evidente processo de saturação e a construção de corredores alternativos. São intervenções necessárias.
Mas, numa região (capital e municípios do entorno metropolitano) em que o transporte tem grandes e crônicos contenciosos, em razão da inexistência de uma sólida política para o setor, é fator de preocupação constatar que os investimentos no sistema de trilhos (trens e metrô) não acompanham as carências da região.
Essa despreocupação também se estende ao aperfeiçoamento da malha (metrolização da ferrovia) e sua integração a um programa mais amplo de transportes que leve em conta a realidade presente e as projeções para o futuro de bairros cidades da região metropolitana.
Quase 15 anos depois de ter sido dada em concessão à iniciativa privada, a rede ferroviária que atende ao subúrbio do Rio e à região metropolitana permanece em crise. Pior, o serviço encolheu: em 1975, os trens transportavam mais de um milhão de pessoas por dia; hoje, a média está em pouco mais de 500 mil, embora já tenha sido mais baixo.
O quadro não é muito melhor no metrô, claramente saturado, que investe num crescimento de duvidosa eficácia. A extensão dos trilhos até a Barra da Tijuca segue o modelo do “puxadão”, uma opção, segundo especialistas, pelo agravamento da saturação.
Uma saída óbvia, a metrolização, adotada com sucesso por países e cidades que lograram reduzir seus contenciosos em transportes de massa, sequer chega à agenda de discussões mais sérias.
A série de reportagens sobre mobilidade urbana que O GLOBO publicou ao longo da semana expôs essas deficiências — às quais se junta, também, o subaproveitamento do potencial do sistema de transporte marítimo, inexplicável numa região cujos municípios compartilham a Baía de Guanabara. Tal descompasso se traduz em serviços de baixa qualidade, compromete os resultados globais de investimentos e joga uma sobra de preocupação sobre o futuro do Rio e adjacências.
Inversões como as que estão sendo feitas no polo industrial de Itaguaí, por exemplo, se beneficiam a região, ao mesmo tempo podem estar ligando um relógio de problemas para as prefeituras do Rio e cidades vizinhas, em decorrência do previsível crescimento populacional daquela área, que agravará ainda mais as deficiências de corredores de trânsito e meios de transporte que sequer suportam a atual demanda.
São questões que implicam estratégias suprapartidárias e decisões administrativas integradas, acima de interesses de governo, no plano de políticas de Estado.
Fonte: O Globo, 24/03/2013