As concessões de infraestrutura vão começar a movimentar investimentos em 2014. Esse é o consenso entre especialistas ouvidos pelo Valor. A maioria reitera, entretanto, que o esforço é menor do que o necessário para resolver gargalos logísticos. Para Armando Castelar, coordenador de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (IBRE/FGV), o aumento no investimento em infraestrutura não será suficiente para “mudar a fotografia do país”.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) estima que a participação dos investimentos totais no Produto Interno Bruto (PIB) alcance 19,5% este ano com o incentivo das concessões, e salte para 22,2% em 2018. Para Castelar, essa estimativa está muito otimista. “O BNDES faz esse exercício há alguns anos, e sempre prevê que a participação dos investimentos irá alcançar um patamar de 20% no PIB. O BNDES não costuma acertar”, afirma.
Apesar de positivas, Castelar estima que as concessões de rodovias e ferrovias devem impactar o PIB em apenas 0,1% ao longo dos próximos 30 anos, período de duração da concessão. Já o especialista em infraestrutura Cláudio Frischtak acha que a estimativa do BNDES de participação dos investimentos no PIB para 2014 está razoável. “Em 2013, estimamos que os investimentos representaram 19% do PIB. Com o impulso das concessões, principalmente de rodovias, essa parcela deve ir para 19,4%”, disse.
A visão de longo prazo do BNDES, que estima taxa de investimento de 22,2% do PIB em 2018, entretanto, é “fonte de incertezas”. Para Frischtak, a concretização deste volume vai depender do sucesso dos leilões de ferrovias e portos, e também da descentralização das fontes de financiamento, hoje muito concentradas no BNDES.
Castelar concorda. Para ele, o modelo atual de concessões, que autoriza a participação do BNDES de até 80% no financiamento não é sustentável. “O modelo é muito calcado em recursos do BNDES e isso é muito demandante de recursos do Tesouro [Nacional]. Essa porta está se fechando, tem que buscar nova equação de financiamento”, afirma.
O economista da LCA Consultores, Fernando Camargo, reconhece o papel majoritário do BNDES nos financiamentos de infraestrutura, mas lembra que o custo das linhas do banco são mais atrativas que aquelas praticadas no mercado. “O sistema bancário brasileiro ainda é muito voltado ao curto prazo. Há um descasamento entre a necessidade de financiamento e a estrutura de poupança dos brasileiros, que é toda de curto prazo”, defende.
O superintendente de infraestrutura do banco de fomento, Nelson Siffert, concorda. “O fato é que o BNDES supre falhas de mercado na intermediação financeira”, justifica. Ele afirma que o banco tem trabalhado para trazer a iniciativa privada para os financiamentos de longo prazo, bem como o mercado de capitais – por meio da emissão de debêntures incentivadas.
“Quando houver convergência da Selic [taxa básica de juros da economia] com a TJLP [taxa de juros de longo prazo, hoje em 5%], acredito que o mercado de capitais pode ter papel mais proativo no financiamento da infraestrutura. Quando o mercado de capitais estiver funcionando, eventualmente o BNDES poderia ser, no futuro, um garantidor da implantação desses projetos”, sugere Siffert.
Segundo ele, oito projetos já foram aprovados com emissão de debêntures. O superintendente estima que o volume de debêntures em projetos de infraestrutura vai crescer acentuadamente em 2014. “Acho que chega a R$ 10 bilhões”, projeta. Em 2013, o total emitido foi de R$ 4,5 bilhões.
Siffert refuta, porém, a ideia de que o modelo de concessões tem limitações. “Esse modelo está longe de atingir os seus limites”, disse. Ele explica que o banco não tem ido até o limite de 80%. “Nossa politica diz até 80%, mas é limitada ao índice de cobertura do serviço da dívida. A nossa participação média tem sido de 60% a 65%. Quando entra o mercado de capitais, essa alavancagem pode ir a 75%”, explica Siffert.
Especificamente sobre a capacidade de investimentos do BNDES, agora que já foi confirmada a expectativa de desembolsos menores a partir do ano que vem, o superintendente afirmou que a infraestrutura ainda pode crescer sua representatividade de desembolsos dentro do orçamento.
“Infraestrutura é prioridade, e por isso pode crescer em detrimento de outras atividades, como comércio e serviço, dado que ideia do banco é manter um orçamento menor”, afirma. Segundo suas estimativas, do total desembolsado pelo BNDES atualmente, 40% são para infraestrutura. “Acho que esse percentual pode ir para 60%”, projeta Siffert.
Em 2013, o superintendente espera alcançar R$ 28,5 bilhões de desembolsos em operações diretas e mistas para logística e energia, um crescimento de 16% em relação a 2012. Desse total, cerca de R$ 19 bilhões foram para a área de energia e R$ 9,5 bilhões foram para logística.
“Energia já está num nível de investimento que nos parece bem razoável no sentido de atender às necessidades da economia brasileira num cenário de crescimento mais acelerado do PIB [Produto Interno Bruto]. Esperamos chegar em 2016 com logística empatando com energia com desembolsos de R$ 22,5 bilhões cada”, afirma Siffert. Este, na sua opinião, é o maior desafio.
Fonte: Valor Econômico, 03/01/2014
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