O diretor da ESALQ-USP e especialista em logística agroindustrial José Vicente Caixeta Filho afirmou nesta quinta-feira (18/9) que o Brasil precisa de “ferrovias padrão Fifa”. A crítica veio durante o Fórum Estadão, que aconteceu em São Paulo (SP).
Ele contou que se por um lado é importante produzir mais dentro da porteira, fora dela há uma série de desafios para o produtor. “O Brasil não é formador de preço, e ainda gasta mais em logística, o que estaria impactando a receita em torno de 6%. Isso é muito! Qualquer mudança que possa ser feita em cima disso será muito importante”.
Os problemas com logística são antigos, como ele lembrou durante o evento. Para ele, a parceria entre órgãos públicos e privados “parece óbvia”, mas que não vê muita movimentação quanto a isso. “Precisamos de mais ferrovias, hidrovias… mas é uma história antiga, parece que não anda. As poucas coisas que andaram se esbarram em uma série de deficiências que começam nas licitações públicas. O menor preço (dos processos licitatórios) nem sempre tem o melhor serviço”, explica.
Eleições
Entre os temas debatidos no painel estão as propostas dos presidenciáveis para a eleição que acontece este ano. “Precisamos que o Estado assuma a logística, e não o partido”, comentou o especialista ao falar das propostas para o setor. Ele afirma também que a agricultura deve ser tratada como cliente preferencial pelo volume trafegado em rodovias, hidrovias e ferrovias.
Sobre problemas na esfera da gestão pública, ele questiona também as leis trabalhistas que atingem a logística, como as leis de motoristas e estadia, que geram mais custos e precisam ser repensadas pelos próximos gestores.
Saída pelo norte
Tema recorrente nas discussões sobre logística, os portos nas regiões Norte e Nordeste são “o que todos queremos”. “Com o avanço da fronteira agrícola nessa direção, essas regiões poderiam ser usadas. as existe um vício, especialmente para o exportador. O coração econômico está no Sudeste, o produtor vai insistir nos portos de Santos (SP) e Paranaguá (PR).
Agricultura familiar x empresarial
Sobre agricultura familiar e de grande escala, José Vicente quer acabar com essa separação. “Essa divisão não necessariamente ajuda no desenvolvimento de soluções. Seja agricultura de menor ou maior escala, os desafios logísticos vão existir”.
Questionado sobre o peso da agricultura familiar na segurança alimentar e uma possível tendência do Brasil à monocultura, José Vicente foi enfático ao relembrar a variedade da produção brasileira. “Cada vez mais estamos diversificando. Mas sim, soja e milho, em termos de volume, são expressivos e representativos. Mas o fato de ter essa representatividade maior não quer dizer que somos um país propenso à monocultura. Hortifruti, sorgo e fumo têm crescido”, finaliza.
Fonte: Globo Rural, 18/09/2014