A “imobilidade urbana” causa prejuízos de R$ 111 bilhões ao ano para a economia brasileira. O impacto sobre o PIB passou de 4,3% para 4,4% entre 2011 e 2012. É o que aponta o estudo “O custo dos deslocamentos nas principais áreas urbanas do Brasil”, apresentado no Congresso Internacional Cidades & Transportes realizado na Cidade das Artes, no Rio de Janeiro. O tempo de deslocamento aumentou entre 2011 e 2012 em 35 das 37 regiões metropolitanas pesquisadas.
Dezessete milhões de pessoas demoram, em média, 114 minutos em viagens de casa para o trabalho e de volta ao lar. Algumas, como os moradores de Japeri, na Região Metropolitana do Rio, chegaram a perder 187 minutos em deslocamentos. Culpa da falta de planejamento das cidades e da concentração populacional em áreas urbanas: 45% dos brasileiros vivem nos 601 municípios das 37 principais regiões metropolitanas do país. Na maior, a Grande São Paulo, o tempo desperdiçado no trânsito é recorde: 5,5 milhões de moradores da capital paulista e adjacências gastam, em média, 132 minutos por dia no trânsito.
O desperdício só é maior na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, mas o número de afetados é menor: 2,8 milhões de pessoas gastam, em média, 141 minutos nas viagens de ida para o emprego e a de volta para casa. A pesquisa da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro revela que o tempo de deslocamento no Grande Rio aumentou 11 minutos em 2012 na comparação com o ano anterior. Em compensação, o número de trabalhadores que perderam mais de 30 minutos diários em deslocamentos caiu 1,5%. “Embora uma parcela dos trabalhadores tenha conseguido emprego mais perto de casa, para aqueles que residiam mais distantes do local de trabalho os deslocamentos ficaram mais demorados”, diz Rylei Rodrigues, especialista sênior em Competitividade Industrial e Investimentos do Sistema Firjan.
Já em São Paulo o custo médio dos deslocamentos com mais de 30 minutos passou de R$ 43,8 bilhões, em 2011, para R$ 44,8 bilhões, em 2012. Embora o número de trabalhadores que perderam mais de 30 minutos diários no trânsito tenha aumentado 4,5%, o tempo de deslocamento aumentou apenas um minuto. “Os programas de ampliação de capacidade do sistema de mobilidade urbana (metrôs, trens metropolitanos e corredores exclusivos de ônibus) conseguiram absorver parte do impacto da maior demanda por transporte”, explica Rodrigues.
Outras grandes áreas metropolitanas registraram aumento do tempo de deslocamento, como Salvador, Belo Horizonte e Recife. Em Curitiba, a viagem que antes levava 120 minutos agora é feita em 122 minutos. “O resultado mostra que o sistema de transporte sempre elogiado da capital paranaense já não suporta mais o aumento da população”, afirma Rodrigues.
O tempo de deslocamento casa-trabalho-casa gera custos elevados. Em 2012, nas 37 áreas metropolitanas pesquisadas, o custo da produção sacrificada, o que se deixa de produzir e impacta diretamente no PIB, ultrapassou R$ 111 bilhões. O impacto sobre o PIB metropolitano passou de 4,3% para 4,4%. Na Região Metropolitana do Rio o valor ultrapassou R$ 19,0 bilhões, ou 5,9% do PIB metropolitano. Na Grande São Paulo, o impacto atingiu R$ 44,8 bilhões, equivalente a 5,7% do PIB metropolitano.
Fonte: Valor Econômico, 16/09/2015