“Temos que continuar lutando para a expansão da malha ferroviária de carga e de passageiros”, diz presidente da Abifer

A Associação Nacional de Transportes Públicos  do estado de São Paulo fez uma entrevista com o presidente da Vicente Abate, presidente da ABIFER – Associação Brasileira da Indústria Ferroviária sobre as perspectivas atuais dos investimentos em ferrovias no país. A ABIFER congrega toda a cadeia produtiva do setor no país, reunindo desde fabricantes de locomotivas diesel-elétricas e diesel-hidráulicas, vagões de carga de todos os tipos, vagões siderúrgicos e carros de passageiros metroferroviários, até veículos leves sobre trilhos (VLT) e trens de alta velocidade (TAV), além de uma série de empresas pertencentes à cadeia produtiva.

ANTP = Em entrevista concedida no início de 2012 o sr. acreditava num futuro promissor para a fabricação de veículos ferroviários, prevendo recordes nesta década. Chegamos à metade da década, já se foi a Copa, e estamos às vésperas da Olimpíada: que avaliação o senhor faz hoje do setor metroferroviário?

Abate = Nossas previsões de fabricação e entrega de vagões de carga, locomotivas e trens de passageiros vêm se confirmando até o presente ano de 2015. As incertezas atuais da economia brasileira preocupam-nos a partir de 2016, porém acreditamos que até o final desta década registraremos os recordes previstos.

ANTP = O transporte de cargas conta hoje com uma malha ferroviária de quase 30 mil km de extensão, que responde pela circulação de 25% de todas as riquezas do país. Quanto ao transporte de passageiros sobre trilhos, o país possui hoje 15 sistemas urbanos, em 11 estados e no Distrito Federal, que movimentam quase 10 milhões de pessoas todos os dias. Este aparente gigantismo é suficiente para absorver a demanda crescente de cargas e passageiros?

Abate = Temos que continuar lutando para a expansão da malha ferroviária de carga e de passageiros, ainda muito aquém de nossas necessidades.

Dos 30 mil km da carga, apenas 23 mil são hoje operacionais. Encontram-se em execução, entre construção e duplicação, cerca de 4 mil km, que serão concluídos até 2018. Com o PIL-2, prevê-se mais 7 mil km, de forma que em 2025 espera-se uma malha com 34 mil km.

Para quem já teve 38 mil km, há 50 anos, ainda é muito pouco.

Na área de passageiros, os mil km atuais de ferrovias urbanas são também insuficientes. Espera-se que esta rede alcance 1.200 km até 2020, com ênfase em São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Brasília, entre outras cidades.

Paralelamente, espera-se também a implementação dos Trens Regionais, de média e longa distância. Projetos em discussão, porém sem data prevista para lançamento dos Editais, comportam cerca de 1.000 km de vias, sendo 50% deles no Estado de São Paulo.

ANTP = O Programa de Investimentos em Logística (PIL), lançado em 2012, estimava ampliar as ferrovias de carga em mais 11 mil quilômetros. Nesta fase o governo anunciou investimentos de R$ 133 bilhões apenas em rodovias e ferrovias. Em junho/2015 o governo anunciou a nova fase do PIL, com previsão de investimentos provenientes do setor privado de R$ 198,4 bilhões nos próximos anos, dos quais R$ 86,4 bilhões destinados para ferrovias. Como o senhor avalia o Programa?

Abate = O programa atual está melhor estruturado que o anterior. Porém, quatro meses depois de seu lançamento não vemos ainda qualquer progresso para a sua concretização.

ANTP = Ainda falando do PIL: dos R$ 86,4 bi desta nova fase a maior fatia, R$ 40 bilhões, provém da ferrovia chamada Bioceânica, que pretende interligar o Centro-Oeste e o Norte do país ao Peru, visando as exportações para a China. Como o senhor vê essa obra?

Abate = O PIL-2 Ferroviário pode ser dividido, na nossa visão, em três partes.

Os investimentos mais imediatos, de R$ 16 bilhões, por parte das concessionárias atuais, dependem de entendimentos, em andamento e com boas perspectivas, entre o Governo e estas concessionárias, para renovar os prazos das concessões atuais antecipadamente a seus vencimentos, que ocorrerão em 2026/2028.

Num segundo bloco, temos 4 projetos de ferrovias, no valor de R$ 30,4 bilhões, que podem ser entendidos como de médio prazo, mas perfeitamente exequíveis.

Por último, a mais longo prazo, vemos a ferrovia “bioceânica”, no valor de R$ 40 bilhões.

ANTP = Os chineses estariam dispostos a investir na Biocênica. Agora a ANTT anuncia que os russos (RZD – Companhia Ferroviária da Rússia) se também demonstraram interesse em investir no Plano de Investimento em Logística de Ferrovias. O capital externo é bom para o Brasil? Que cuidados seriam necessários para preservar e alavancar a indústria nacional?

Abate = Todo investimento, seja ele nacional ou estrangeiro, é bem-vindo.

A indústria nacional, ferroviária e da construção, está preparada para fornecer qualquer tipo de material e equipamento, desde a fase de construção das ferrovias até a sua operação.

Portanto, vemos todos os programas de investimentos em infraestrutura como extremamente necessários e prementes, não só para prover o País de ferrovias, rodovias, hidrovias, etc, como também para contribuir com o crescimento do nosso PIB.

Fonte: ANTP
Publicada em:: 05/10/2015

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