Grandes cidades brasileiras planejam o futuro da mobilidade

A mobilidade é um dos temas que mais preocupa a população das grandes cidades brasileiras. As distâncias a serem percorridas diariamente e a qualidade dos sistemas de transporte são um desafio a ser enfrentado diariamente por boa parte dos seus moradores, e a falta de planejamento só piora o quadro. Diante disso, é cada vez mais urgente repensar as formas de locomoção nas metrópoles, buscando soluções para resolver os problemas do presente e possibilitando um futuro com melhor qualidade de vida a todos os cidadãos.

Segundo uma pesquisa publicada em 2017 pela CNT (Confederação Nacional do Transporte) e pela ANTU (Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos), o brasileiro vê o transporte como o quarto maior problema das cidades, perdendo apenas para a violência, a saúde e o desemprego. A mesma pesquisa indica que o cidadão médio leva 37,7 minutos para se deslocar entre casa e o trabalho – mas, em cidades com mais de 3 milhões de habitantes, o número sobe para extenuantes 46,2 minutos.

Outro dado preocupante diz respeito à frota veicular no Brasil. Embora os últimos anos tenham sido de estabilidade, ela cresceu 138,6% entre 2002 e 2012, período em que a população brasileira aumentou 12,2%, segundo dados do Observatório das Metrópoles. Nessa época, os governos dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) e Dilma Rousseff (2011-2016) adotaram políticas de crédito à indústria automobilística, facilitando a compra de carros e motos pela população. O resultado disso é que algumas cidades, como Curitiba, chegam a ter uma proporção de quase um veículo por habitante.

Soluções em Fortaleza

Fortaleza é uma cidade que buscou soluções para evitar o colapso em termos de locomoção. Entre 2004 e 2015, sua frota de veículos aumentou 226%, tornando-se a maior entre as capitais do Nordeste. Entre 2010 e 2015, sua população cresceu 5,7%, enquanto o total de veículos subiu mais de 40%. Esse quadro estrangulou a capital cearense, que, sem contar com faixas exclusivas para ônibus, via os congestionamentos piorarem dia a dia.

A administração da cidade se viu obrigada a agir, e rápido. Uma de suas iniciativas foi a formação do Plano de Ações Imediatas em Trânsito e Transporte (PAITT). Ele funciona pela criação e implementação de projetos-piloto em mobilidade, todos com prazos de seis meses, durante o qual as medidas são avaliadas e, depois, adotadas em definitivo ou descartadas.

“Precisávamos de medidas impactantes, que mudassem rapidamente a realidade do transporte e a maneira como as pessoas pensam seus deslocamentos”, diz o secretário-executivo de Conservação e Serviços Públicos da cidade, Luiz Alberto Sabóia, que também coordena o plano.

Uma das primeiras medidas decorrentes do PAITT foi a adoção de faixas exclusivas para ônibus em algumas das principais avenidas da capital, como a Santos Dumont e a Dom Luís. Além disso, foi implementado em várias zonas o sistema binário, em que uma via tem circulação em um sentido, enquanto a outra, paralela, tem tráfego no sentido contrário.

O resultado foi o aumento imediato da fluidez do trânsito. Sabóia afirma que a melhora da circulação dos ônibus ficou entre 60% e 200% nas vias com faixa exclusiva. “Com isso, o usuário de transporte coletivo em Fortaleza economizou em média sete dias por ano de tempo gasto no trânsito”, estima o secretário. No total, a cidade já ganhou 100 km de faixas exclusivas para ônibus, além de um corredor do sistema de ônibus rápido BRT (Bus Rapid Transit).

Outra iniciativa em Fortaleza foi a criação de diferentes programas de compartilhamento de bicicletas, todos integrados com o serviço de ônibus e voltados ao uso como meio de transporte, e não somente de lazer. Com isso, 75% dos usos de bicicletas compartilhadas na capital cearense são feitos por usuários do Bilhete Único da cidade, que têm gratuidade na integração com os sistemas de transporte público.

Estruturando as cidades de amanhã

Além do PAITT, a prefeitura criou um programa chamado Fortaleza 2040, que busca diretrizes para tornar a cidade mais amigável e racional no longo prazo, não só planejando melhor o compartilhamento do solo entre transportes individuais e coletivos, mas também buscando policentralidades, ou seja, levando escolas, empresas e outros empreendimentos para mais perto de onde moram as pessoas, reduzindo os percursos.

Muitos especialistas veem as policentralidades como sendo o futuro da mobilidade urbana. “A solução do transporte passa por repensar como as cidades são estruturadas”, diz Luis Antonio Lindau, diretor da WRI Brasil Cidades Sustentáveis. Ele cita como um exemplo a Zona Leste de São Paulo, onde mora a maior parte da população da capital paulista, mas que é distante dos principais centros econômicos da cidade. “É preciso reestruturar as cidades para se criar oportunidades mais perto das residências, reduzir os percursos”, afirma.

Tanto o PAITT quanto o plano Fortaleza 2040 estão em conformidade com a Política Nacional de Mobilidade Urbana (PNMU), prevista pela Lei 12.587 de 2012. Essa norma estabelece o transporte público como prioritário nas iniciativas de mobilidade das cidades, além de dar preferência aos meios não-motorizados, para buscar a maior sustentabilidade dos sistemas e a divisão harmoniosa do espaço público entre os vários tipos de locomoção.

Futuro sobre trilhos

Em São Paulo, a expansão do metrô é uma iniciativa importante dentro dessa mudança de lógica na mobilidade urbana brasileira para o futuro.

A linha 5-Lilás, que já conta com dez estações em plena operação, deve ganhar mais sete ainda este ano. Quando pronta, ela irá do Capão Redondo até a Chácara Klabin, um percurso de mais de 20 km que, hoje, pode levar quase 2 horas para ser realizado. A linha vai se interligar com outras duas linhas de metrô e mais duas de trens metropolitanos, conectando a populosa zona sul da cidade a diversos bairros, como Morumbi, Brooklin e Moema, transportando cerca de 850 mil pessoas por dia.

Já o monotrilho da linha 17-Ouro fará a integração entre o aeroporto de Congonhas, uma das principais portas de entrada da capital paulista, à rede metro-ferroviária da cidade e sua região metropolitana. Ela terá oito estações elevadas, com interligação com uma linha do metrô e uma linha de trem metropolitano. Sua inauguração está prevista para 2019, com a expectativa de atender 185 mil passageiros por dia.

As duas linhas serão administradas pelo Consórcio Via Mobilidade, que, em janeiro, venceu licitação internacional para concessão dos ramais. O consórcio, liderado pela CCR, será responsável pela operação e manutenção das linhas por 20 anos.

Para o presidente da divisão de Mobilidade da CCR, Leonardo Vianna, o transporte sobre trilhos é peça fundamental como alternativa ao carro. “Além da redução do impacto ambiental, uma única linha implantada de metrô, por exemplo, é capaz de transportar cerca de 60 mil passageiros por hora em cada sentido, com qualidade e de forma ágil e segura”, diz.

“Não há uma fórmula mágica para resolver o desequilíbrio da mobilidade nas grandes cidades brasileiras, mas o investimento em alternativas para substituir o transporte motorizado individual é um caminho promissor”, afirma.

Fonte: G1, 08/03/2018

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