Um plano em desenvolvimento no governo paulista prevê a transformação da malha ferroviária desativada, com baixa capacidade ou ociosa em shortlines, que são as linhas de trajeto curto. O objetivo é equilibrar a matriz de transporte de cargas, hoje altamente dependente das rodovias.
A proposta está ancorada na aprovação da lei federal 14.273, do ano passado, que baseou o envio de um projeto de lei sobre o assunto à Assembleia Legislativa.
Apenas 11% do transporte de cargas em São Paulo é feito por meio de ferrovias, ante os 84% de participação das rodovias e 5% de outros modais (aéreo e dutos), índice inferior à média brasileira, de 23%.
Para piorar, com uma malha ativa de 2.390 quilômetros, São Paulo tem outros 2.530 quilômetros de trilhos sem utilização, ou seja, mais da metade. O Brasil tem, no total, cerca de 30 mil quilômetros de linhas férreas.
Além das shortlines, o plano prevê promover novas concessões ao setor privado de linhas ociosas espalhadas pelo estado, envolvendo governo federal e a concessionária responsável pelo trecho.
“O plano se deve ao novo marco ferroviário, que deu a possibilidade de ter um sistema simplificado para autorizações de ferrovias e ajude a retomar essa discussão importante dessa malha subutilizada, abandonada, que tem formado verdadeiras cicatrizes urbanas no interior”, disse o secretário de Logística e Transportes de São Paulo, João Octaviano Machado Neto.
Segundo ele, há trechos que precisam ser revistos, principalmente no entorno de regiões metropolitanas, que apresentam saturação da malha rodoviária com caminhões que poderiam ser substituídos pelo transporte sobre trilhos, com a criação de terminais intermodais.
“Através do modelo das linhas curtas, podem ser criados terminais intermodais, fazendo com que haja trânsito de carga de uma forma muito mais equilibrada principalmente no entorno das metrópoles.”
Para Machado Neto, o plano é uma ação que transcende o governo atual e que, independentemente dos governantes nas próximas duas décadas, terá de ser desenvolvido por necessidade para evitar a saturação das rodovias nas regiões metropolitanas e mais danos ao ambiente.
O transporte de passageiros está contemplado nos estudos com o TIC (Trem Intercidades), inicialmente entre a capital e Campinas e que, nos próximos meses, terá audiências públicas e a publicação do edital do trecho.
O projeto, comandado pela Secretaria dos Transportes Metropolitanos, está, segundo o secretário, na fase de discussões sobre o compartilhamento de vias no trecho entre as duas metrópoles.
As outras rotas analisadas são entre São Paulo e São José dos Campos e de São Paulo a Sorocaba.
O plano logístico do governo paulista, de passageiros e cargas, contempla investimentos privados que podem chegar a R$ 70 bilhões até 2040, sendo 77% para o setor ferroviário.
O plano prevê linhas de expresso de cargas, trens intercidades e obras rodoviárias e ferroviárias na macrometrópole paulista, que compreende os arredores da capital e dos municípios de Campinas, Sorocaba, Baixada Santista e São José dos Campos.
Um estudo finalizado em julho pelo consórcio PRO-TL, formado por seis empresas vencedoras de um edital em 2018, serve de base para as discussões. Ele estrutura alternativas para desafogar o trânsito e acelerar o transporte de cargas ao Porto de Santos.
A implantação de trens intercidades é uma realidade em outros países, como o México, que em 2021 anunciou um investimento de R$ 8 bilhões numa rota de 1.525 quilômetros e 19 estações.
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