A disputa pelos passageiros dos aeroportos Santos Dumont e Tom Jobim (Galeão) tem mobilizado esforços em diferentes sentidos pelo governo do Rio de Janeiro.
Enquanto a Secretaria Estadual de Turismo executa um estudo para propor a ligação entre os aeroportos via Baía de Guanabara com serviços de barcas, a Casa Civil concentra o trabalho para a concessão conjunta dos terminais ocorrer ainda em 2023.
O projeto de interesse turístico da pasta considera envolver a Barcas S/A, uma concessionária estadual, e usar as estações já existentes na Praça XV, no centro, e em Cocotá, no bairro da Ilha do Governador, para criar a linha de barcas Santos Dumont-Galeão.
A intenção é permitir deslocamentos em torno de 20 minutos, sem enfrentar o fluxo do trânsito da Linha Vermelha. Hoje o tempo médio da ligação Praça XV a Cocotá é de 55 minutos, com três viagens ida e volta por dia apenas durante a semana.
“A ligação aquaviária, que já existe, inclusive com píers, será feita entre os dois aeroportos. Estamos no estudo preliminar para a partir daí transformar em projeto, ver a parte legal e depois a concessão dessa linha. O que vamos fazer é colocar o turista em um ambiente nobre da cidade, que é a baía de Guanabara”, disse o secretário Estadual de Turismo, Sávio Neves, durante um evento da ACRJ (Associação Comercial do Rio de Janeiro).
O estudo ainda está em fase preliminar, mas as vantagens do serviço têm sido amplamente defendidas pelo secretário em eventos.
Em nota, a pasta informou que após “a conclusão do estudo de interesse turístico, ainda sem prazo, e após o laudo de viabilidade, estabelecer ação integrada junto à Secretaria de Estado de Transportes e demais instituições envolvidas”.
Procurada, a CCR Barcas, que opera o serviço aquaviário atualmente, informou que desconhece a iniciativa da pasta.
A empresa do Grupo CCR assumiu o controle acionário da Concessionária Barcas S/A em julho de 2012 por meio da aquisição de 80% das ações. A concessionária das Barcas tem contrato com o estado até 2023.
O tema da interligação entre os dois terminais voltou a ganhar visibilidade no ano passado, em meio às discussões sobre a privatização do Santos Dumont.
A execução de uma linha de metrô ou de VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) ligando um ponto central do Rio ao Galeão, como forma de tentar evitar o esvaziamento do aeroporto internacional, chegou a ser cogitada pelo então secretário-executivo-adjunto do Ministério da Infraestrutura, Felipe Queiroz.
A ideia seria realizar o projeto com investimento cruzado entre governo federal e estadual, usando recursos da outorga do SDU —então prevista para ocorrer na 7ª rodada de concessões, agendada para o próximo dia 18 de agosto.
O serviço seria uma saída para conferir competitividade ao Tom Jobim sem, necessariamente, ter de limitar o número de voos e destinos a partir do Santos Dumont.
Com a separação do SDU dos demais blocos de aeroportos, a discussão não avançou.
Na avaliação da Casa Civil do Rio, os aspectos relacionados à infraestrutura são importantes, porém, secundários para tornar os aeroportos atrativos para a iniciativa privada.
“A discussão de modais é acessória ao ponto principal que é vocação de cada aeroporto, como eles se complementam e a importância que têm para a economia. A questão de acesso por barcas ou metrô não é um ponto decisivo para garantir o equilíbrio e a viabilidade dos aeroportos, ainda que possa ser importante no futuro, mas de maneira complementar”, avalia o secretário da Casa Civil, Nicola Miccione.
Para ele, o modelo de concessão do novo edital para o leilão do bloco, composto pelos dois aeroportos, precisa garantir que as vocações individuais sejam respeitadas, sem que haja sobreposição de competências. O desfecho do destino dos terminais deve ser mais rápido do que o previsto inicialmente.
Não só a licitação, mas também a assinatura do contrato para a concessão conjunta deve ocorrer ainda em 2023, segundo Miccione.
De acordo com a gestão do Rio, o governo federal está em fase de contratação da consultoria responsável por propor o modelo de concessão.
“O estado vê a necessidade da vocação do Aeroporto Internacional ser respeitada sem prejuízo de uma complementariedade do SDU”, disse Miccione. “O que também exige olhar para o Santos Dumont sem superdimensionar sua capacidade técnica. As questões precisam ser tratadas de maneira técnica para que não se criem artificialismos”.
Fonte: Folha de S. Paulo, 11/07/2022