RIO — Nem de longe lembra os saudosos bondes da década de 1960. O primeiro trem do VLT, que chegou ao Rio na sexta-feira, vindo de La Rochelle, região costeira da França, parece ter saído de um filme futurista. A cabine, onde ficará o maquinista, tem painéis luminosos como laboratórios de ficção científica. Ao lado do computador de bordo, no centro, há 26 botões verdes e laranjas com funções variadas: um deles, por exemplo, ligar o ar-condicionado; outro, aciona o limpador do para-brisa. Quando estiver preparado para operar, uma alavanca, semelhante a um joystick de videogame, dará partida a cada composição. O sistema vai deslizar sobre trilhos da cidade sem precisar de conexão com cabos da rede elétrica, como é comum nos VLTs mundo afora.
— O Rio será a segunda cidade no mundo a ter um VLT 100% livre de catenária, ou seja, sem os cabos aéreos de energia para alimentar os veículos. A primeira foi Dubai, nos Emirados Árabes. O sistema, chamado de APS, aliado a capacitores, fornece eletricidade pelos trilhos, que são energizados somente no exato local onde a composição está passando — diz Jorge Arraes, secretario especial de Concessões e Parcerias Público-Privadas.
Assim que sair do Porto, onde ainda aguarda a liberação da alfândega, o VLT será levado para a Rua General Luís Mendes de Morais, ao lado da Rodoviária Novo Rio, para realizar as primeiras avaliações. Uma equipe da Alstom, empresa que fabrica o bonde moderno, virá ao país para acompanhar os testes de nivelamento (para averiguar se o VLT não vai arrastar o fundo da composição nos trilhos). Em breve, a Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio de Janeiro (Cdurp) vai divulgar as datas de chegada dos próximos trens. Segundo o órgão, está previsto o recebimento de mais 31. Quatro deles virão da mesma região na França, e os demais serão montados em Taubaté, na fábrica da Alstom, em São Paulo.
— A fábrica em Taubaté foi inaugurada em março para isso. Eles começaram a montar os trens desde então. Toda a parte de sistema, como equipamento elétrico, continuará sendo importada. O que será fabricado aqui serão as rodas, suspensão, bancos, luminárias, tudo que não for sistema elétrico e de TI será fabricado em São Paulo. Não há risco de atrasos. O processo faz parte do programa de nacionalização progressiva que firmamos na época que definimos a empresa. Uma das exigências era que ocorresse transferência de tecnologia para que a fábrica brasileira ficasse apta a produzir VLTs para outros lugares — diz Arraes. — Depois que o Rio assumiu a vanguarda do VLT no país, Santos, Brasília, Cuiabá e Curitiba já procuraram a prefeitura da cidade para conhecer o projeto.
PERÍODO DE TESTES
No cronograma inicial, estava previsto que a fase de operação começasse este mês, e a segunda, em março de 2016. Agora, a previsão é que os primeiros VLTs comecem a circular pelo trecho que vai da Rodoviária Novo Rio até o Aeroporto Santos Dumont no fim de 2015 — passando pela Avenida Rodrigues Alves, Praça Mauá e Avenida Rio Branco —, mas apenas para testes operacionais, sem passageiros. O público poderá andar de VLT a partir de abril do ano que vem. A linhas, que haviam sido divulgadas, estão em estudos. Segundo a prefeitura, a programação vai levar em consideração a retirada dos ônibus do Centro.
A segunda etapa inclui a ligação entre a Central do Brasil e a Praça Quinze, passando, por um lado, pela Avenida Marechal Floriano, e, por outro, pelo Campo de Santana, Praça Tiradentes, Largo da Carioca e Rua Sete de Setembro. A previsão é que este segundo trecho, que vai conectar também o Santo Cristo à Avenida Rodrigues Alves pela Gamboa, esteja em operação comercial em agosto de 2016.
— Mais para o fim do ano vão ocorrer testes simultâneos. Os que chegaram primeiro passarão pelos testes de movimento e, à medida que comecem a chegar os outros, vamos iniciar mais uma bateria de avaliação. A sequência toda de testes vai durar de três a quatro meses — diz Arraes.
No momento, a operação está concentrada na colocação dos trilhos por onde passará o VLT. Até agora, cinco quilômetros (o percurso inteiro é de 27 quilômetros) já foram instalados — 18% do total. Os trechos mais adiantados são as vias próximas à Rodoviária Novo Rio, e as regiões da Praça Mauá, Cinelândia, e Praça da Harmonia. No final de semana, foram feitas interdições em ruas no entorno do Campo de Santana e na região do Largo da Carioca. Esses locais passam por obras para a colocação dos trilhos. A única área que ainda não tem previsão de intervenções é a que vai da Central do Brasil até a Avenida Rio Branco. No local haverá quatro pontos de parada do VLT.
CAPACIDADE PARA 420 PESSOAS
A velocidade média de cada trem será de 17km/h. Os intervalos devem variar entre três e 15 minutos, dependendo da linha e do horário. De madrugada, os veículos circularão de 30 em 30 minutos. O que também varia é a capacidade total de passageiros. Em média, com três vagões acoplados, será possível carregar 420 pessoas. O sistema terá 32 estações em todo o percurso. Quatro delas (Rodoviária Novo Rio, Central do Brasil, Aeroporto Santos Dumont e Praça Quinze) serão cobertas, assim como as estações do BRT Transcarioca e Transoeste. A novidade é que não haverá cobradores, nem roletas. O sistema de pagamento prevê a utilização do Bilhete Único e a validação voluntária. Esse modelo — utilizado em diversas cidades do mundo — será adotado no Rio pela impossibilidade de construir várias estações. O custo total da obra é de R$ 1,1 bilhão.
Para o professor do Departamento de Engenharia de Transporte da Uerj Alexandre Rojas, o VLT vai conseguir resgatar a mobilidade de um pedaço do Centro que “implorava” por melhorias.
— Um dos melhores meios de transporte que o Rio já teve foi o bonde. Funcionava bem e atendia à necessidade da época. Mas a quantidade de carros na cidade acabou entrando em conflito. O VLT resgata a mobilidade que o Rio teve no passado. O Centro necessitava de uma grande intervenção há décadas.
Fonte: O Globo, 02/07/2015
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