Após obras do metrô, túnel em Copacabana sofre com abandono

RIO — Parcialmente interditado até setembro do ano passado para servir de apoio às obras da Linha 4 do metrô (Ipanema-Barra), o Túnel Sá Freire Alvim, que liga as ruas Barata Ribeiro e Raul Pompeia, em Copacabana, parece abandonado à própria sorte. A iluminação apresenta falhas, e chama atenção o estado do teto: de ponta a ponta, há trechos sem revestimento. A impressão de quem passa de carro ou a pé é de que mais pedaços da cobertura podem cair a qualquer momento. O risco de acidentes é alto.

Mas os problemas não param por aí. No corredor para pedestres, é preciso pular muitas poças de xixi. Sem a presença do poder público, moradores de rua têm ocupado o túnel.

Para o presidente da Sociedade Amigos de Copacabana, Horácio Magalhães, um dos motivos do problema é a inércia de autoridades — o túnel é municipal, enquanto a construção do metrô é de responsabilidade do estado — que não cobraram os reparos após o fim das obras da Linha 4. Ele lembra que, durante os trabalhos, caminhões tomavam boa parte do Sá Freire Alvim. Diz ainda que a falta de conservação e a escuridão têm atraído usuários de drogas e assaltantes.

— O túnel está imundo, escuro, sem parte de um dos corrimãos. As pastilhas podem cair em cima de um carro e provocar um grave acidente. É uma incongruência terem retirado a tela de proteção do teto e deixado o túnel do jeito que está — critica Magalhães. — Sempre que a gente reclamava, a prefeitura argumentava que intervenções seriam feitas pelo consórcio após o fim dos trabalhos. Acabou a obra, o consórcio foi embora e não recuperou o túnel. O município não cobrou, o problema ficou, e, infelizmente, temos que exigir providências da nova administração.

Em setembro, com o fim do uso do túnel pela concessionária Linha 4 Sul, responsável pela obra, foi anunciado que o local passaria por uma reforma. Entre os serviços, estaria justamente a reposição do revestimento nos locais onde houve intervenção. A previsão era que tudo fosse concluído em novembro.

TELA DE PROTEÇÃO REMOVIDA

Mesmo sem a realização dos reparos, foi removida a tela de proteção colocada para impedir a queda das pastilhas de revestimento sobre pedestres e automóveis. Além disso, moradores reclamam da insegurança na área.

— O túnel se encontra em condições precárias, e não é só uma questão de estrutura. Ele está muito escuro, ocorrem assaltos tanto de dia quanto de noite. Hoje, poucas pessoas se arriscam a passar a pé pelo Sá Freire Alvim — afirma a engenheira química Heloisa Rodrigues, que vive no bairro.

O universitário Rômulo Guedes Pereira destaca que o caminho para pedestres no túnel fica constantemente ocupado por moradores de rua, que, muitas vezes, bloqueiam a passagem:

— É um local abandonado e cada vez mais escuro. Parece que, a cada dia que passa, mais lâmpadas param de funcionar. Por diversas vezes passei por ali e fui hostilizado por moradores de rua que se aglomeram pelo caminho.

Uma viagem rápida pela linha do tempo do Google Street View evidencia a transformação do local após o início das interdições — em junho de 2013, os bloqueios começaram, por etapas — para serviços relacionados à escavação da Linha 4 do metrô. A imagem de setembro de 2012 mostra a galeria bem conservada. Em março de 2014, pouco menos de um ano depois, a cobertura já está deteriorada. Atualmente, o cenário é pior: o teto parece ter sido bombardeado.

A Secretaria estadual de Transportes alegou que a reforma do Túnel Sá Freire Alvim foi concluída. Segundo o órgão, o consórcio Linha 4 Sul, responsável pela construção da Linha 4 do metrô, recompôs integralmente o trecho onde houve intervenções para execução das obras. De acordo com a secretaria, foram feitos o fechamento da abóbada do túnel, o assentamento dos azulejos e do mármore e a recomposição da passarela de pedestres.

A prefeitura informou que as novas secretarias de Conservação e Meio Ambiente, e de Urbanismo, Infraestrutura e Habitação iniciaram ontem uma vistoria “para avaliar as condições atuais do túnel e tomar as medidas necessárias, já que a antiga gestão não resolveu o problema”. Os reparos ainda não têm data para acontecer.

Já a Rioluz diz que regularizou a iluminação nos dois trechos do túnel que estavam apagados. A companhia acrescentou que, ao longo desta semana, será feita uma revisão.

OUTRAS GALERIAS TÊM PROBLEMA

Problemas de conservação, iluminação e limpeza também são observados em outros túneis da cidade. O Noel Rosa, que liga os bairros de Vila Isabel e Riachuelo, ontem estava cheio de lixo e praticamente às escuras. Faltava luz também num trecho da segunda galeria do Túnel Rebouças, no sentido Rio Comprido. O lixo se espalhava pela pista no Túnel João Ricardo, que liga a região da Central do Brasil à Gamboa. Em Copacabana, parte das paredes do Túnel Major Rubens Vaz, que liga as ruas Tonelero e Pompeu Loureiro, está sem azulejos. O revestimento do teto está descascando, e há fiação aparente em toda sua extensão. A passagem de pedestres também tem desníveis.

A Coordenadoria de Vias Especiais, responsável pela manutenção do Rebouças, informou que uma árvore caiu na Rua Santa Alexandrina, no Rio Comprido, e partiu um cabo da Light, o que provocou a falta de luz. Segundo a CVE, a iluminação seria restabelecida ontem à noite.

Em relação ao Túnel Noel Rosa, a Rioluz afirma que fará uma revisão das lâmpadas apagadas.

A Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto (Cdurp) diz que vai vistoriar o Túnel João Ricardo e orientar a Concessionária Porto Novo a fazer a manutenção da via. Já a Comlurb informou que realiza às terças-feiras e aos sábados a limpeza do Túnel João Ricardo. E que, no Noel Rosa, esse serviço é feito diariamente.

Fonte: O Globo, 11/01/2017

 

 

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