Prejuízo de R$ 1 bilhão no transporte sobre trilhos no Rio

A população, grande parte já com o orçamento apertado devido à pandemia, terá que arcar com mais um aumento que doerá no bolso: o da passagem do metrô. O bilhete pode subir de R$ 5 para R$ 6,30 já a partir de abril se forem cumpridos parâmetros da concessão, com cálculos de reajuste baseados no IGP-M, cujo salto foi de 25,71%, entre janeiro de 2020 e janeiro de 2021. Como antecipou ontem o blog Capital, do GLOBO, o MetrôRio vai propor que o governo do Rio subsidie parte dessa tarifa com recursos do Fundo Estadual de Transportes (FET). Seria uma tentativa de garantir um reajuste anual integral, num momento no qual serviços de metrô e trens estimam prejuízos de R$ 1 bilhão frente ao efeito cascata do coronavírus, que reduziu a demanda nos modais.

“Esta é a maior crise da história do transporte e não há perspectivas de aumento no volume de passageiros no curto prazo, por conta do agravamento da pandemia”, diz o MetrôRio em nota, afirmando que, caso o governo pretenda aplicar um reajuste inferior à previsão contratual, entende que a compensação por meio de subsídio seria a forma de manter a operação viável.

O governo do estado, por sua vez, não detalha se o FET poderia ser usado. Mas diz que iniciou as tratativas com o metrô. “Além de um valor mais adequado ao atual cenário socioeconômico, em virtude da pandemia, o objetivo dessa negociação é garantir o equilíbrio econômico-financeiro do contrato”, ressalta a Secretaria estadual de Transportes.

Mês passado, nos debates para o aumento das passagens dos trens, também baseado no IGP-M, a SuperVia esperava que os bilhetes fossem de R$ 4,70 para R$ 5,90. Mas o valor fechado com o estado foi de R$ 5, cobrado nas catracas desde 23 de fevereiro. No metrô, os números lançados como argumento para não abrir mão da correção vêm de perdas na ordem de R$ 600 milhões desde o início da pandemia, com a quantidade de passageiros transportados (cerca de 400 mil por dia) ainda 55% abaixo do que se registrava antes.

A sugestão da empresa é que o estado recorra a sobras do FET (criado em 2009 para custear o Bilhete Único Intermunicipal). O governo deposita ali parte de seu orçamento para subsidiar as passagens de usuários com renda mensal de até R$ 6.101,06. Com o Bilhete Único, é permitido que o passageiro utilize até dois transportes públicos, um deles obrigatoriamente intermunicipal, no período de três horas, por no máximo R$ 8,55. Caso as tarifas ultrapassem esse valor, a diferença é paga pelo governo.

Como menos gente teria usado esse benefício no último ano, o estado teria deixado de gastar aproximadamente R$ 200 milhões. Segundo o presidente do MetrôRio, Guilherme Ramalho, em entrevista ao blog Capital, o subsídio por meio do fundo não oneraria o caixa estadual e poderia ser usado também em outro modais. No caso do metrô, que prevê transportar 130 milhões de passageiros este ano, o governo pagaria R$ 130 milhões se quisesse, por exemplo, subsidiar R$ 1 de cada bilhete. Nesse caso, o cidadão pagaria R$ 5,30, em vez dos R$ 6,30 previstos a partir de abril.

— A passagem do metrô já é um peso enorme nas minhas contas, ainda mais agora que a quantidade de faxinas que faço diminuiu. Se aumentar esse tanto, não sei mais o que vou cortar nas compras de casa — reclama a diarista Fátima de Souza, que costuma atravessar a cidade sobre os trilhos, da Zona Norte, onde mora, à Zona Sul, onde trabalha, quase diariamente. — Mesmo com menos passageiros, os vagões continuam cheios. Distanciamento social não existe para quem pega o transporte na hora do rush.

Nos trens, para que a passagem ficasse abaixo do valor previsto, governo e SuperVia chegaram a um acordo para um termo aditivo ao contrato de concessão. No sistema ferroviário, os prejuízos são calculados em R$ 446,1 milhões na pandemia, resultado da redução de mais de 82 milhões de passageiros no período, de acordo com a empresa. Atualmente, a quantidade de usuários nos ramais que cortam a Região Metropolitana é de cerca de 320 mil por dia, oscilando entre 40% e 50% abaixo do que havia antes.

“A expectativa inicial era que a recuperação completa de clientes se daria no segundo semestre de 2021. Mas a crise econômica do país e o aprofundamento da crise no Rio alteraram a previsão da retomada para o fim de 2022 ou início de 2023”, diz a SuperVia.

Maior queda nas barcas

Em novembro, a SuperVia chegou a desativar 30 trens e divulgar uma nova grade de horários, ampliando os intervalos e reduzindo o número de viagens em todos os ramais.

Enquanto isso, nas barcas, novos valores de passagens começaram a valer em 12 de fevereiro. As tarifas passaram de R$ 6,50 para R$ 6,90 nas linhas sociais. No modal, a queda de demanda é ainda mais aguda que nos trens e no metrô: está em 72%, com média diária de 20 mil passageiros, contra cerca de 80 mil antes da Covid-19, segundo a CCR Barcas, que não fechou o balanço das perdas financeiras na pandemia. Nesse período, as saídas das embarcações sofrem alterações nos horários e, em cumprimento de um decreto do estado, a linha Charitas não está funcionando.

“Em que pese esse cenário, a CCR Barcas segue cumprindo e respeitando os contratos ”, afirma em nota.

Na última quinta-feira, o secretário estadual de Transportes, Delmo Pinho, chegou a participar de uma reunião representantes do Ministério Público estadual e da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), para discutir o panorama do sistema de transporte aquaviário no Rio. Na ocasião, Pinho ressaltou que não houve recuperação da demanda nos transportes.

A crise no setor já se arrasta desde o auge da pandemia. As concessionárias estavam à espera de um socorro federal ao setor, que acabou não se concretizando.

Fonte: oglobo.globo.com,09/03/2021

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