O anseio da região de contar com um transporte ferroviário de passageiros sofreu nova frustração, adiando a longa espera dos campineiros pela volta dos trens. Previsto inicialmente para março, um problema burocrático impediu a publicação do edital de implantação do Trem Intercidades (TIC), que ligará Campinas à capital paulista. O motivo é um entrave nas negociações em torno da extensão do convênio entre o governo federal e a empresa MRS Logística, que opera o transporte de cargas nas linhas que atravessam a cidade. Com o projeto adiado e sem um cronograma definido, viajar de trem para São Paulo é um sonho que terá de esperar mais tempo para um dia se tornar realidade.
No ano passado, uma composição Litorina da CPTM chegou a levar autoridades e parte da imprensa em uma viagem
de demonstração, percorrendo o trajeto do TIC de Campinas a Jundiaí e depois para São Paulo (Diogo Zacarias)
Esta é a segunda vez que um entrave burocrático adiou o início da implantação do TIC, cuja publicação do edital chegou a ser inicialmente prevista para sair em dezembro de 2021, o que não ocorreu. Se o edital tivesse sido publicado no final do ano passado, o leilão para a escolha da empresa que tocaria o projeto também seria realizado ainda este mês. Esse cronograma, inclusive, foi divulgado durante a primeira audiência pública realizada na Prefeitura de Campinas no início do segundo semestre de 2021.
O adiamento do edital foi confirmado pelo governo municipal de Campinas. Segundo apurou o Correio Popular, a princípio a mudança de data prevista para a publicação do edital e, consequentemente, do leilão está ligada a entraves relacionados à renovação da concessão do uso da malha ferroviária entre a MRS Logística e o governo federal no trecho a ser usado pelo trem de passageiros. Nos esclarecimentos por parte dos envolvidos não houve menção sobre novos prazos para o projeto.
A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) não quis comentar o assunto e a MRS citou sobre a evolução de tratativas sobre um acerto de um convênio com a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). “A MRS vem evoluindo, em tratativas constantes, junto à CPTM, com o objetivo de firmar o convênio citado entre as duas instituições. Não temos dúvidas de que a segregação entre os trens de carga e de passageiros na Região Metropolitana de São Paulo trará ganhos significativos para ambos os sistemas”, diz a empresa por meio de nota oficial.
Pelo projeto do TIC, é prevista a oferta de um serviço expresso de modal ferroviário entre Campinas e São Paulo, com uma estação em Jundiaí. O trajeto teria 101 quilômetros de extensão e seria atendido por um trem com capacidade para 800 passageiros, que operaria com velocidade comercial de 95 km/h e em intervalos de até 15 minutos nos horários de pico. A viagem teria uma duração prevista de uma hora.
A MRS será responsável pelas obras de segregação das vias entre a região de Jundiaí e o centro de São Paulo, o que permitirá que seja possível operar serviços expressos, paradores e a Linha 7-Rubi, além dos trens de carga, de forma simultânea. Para isso, a concessionária de carga acerta a extensão do seu contrato com o governo federal mediante investimentos de modernização e ampliação da malha ferroviária.
Nos primeiros adiamentos da publicação do edital, a alegação foi a de que a mudança do prazo era necessária para incluir no documento sugestões recebidas durante as realizações de consultas públicas, ampliadas por um mês e encerradas em outubro do ano passado. Até então, a previsão era assinar o contrato até dezembro deste ano, mas o prazo também não foi reiterado.
A Secretaria de Transportes Metropolitanos do Estado de São Paulo confirmou o adiamento e, em nota, disse que a publicação do edital está em processo final de modelagem. O Estado confirmou ontem que para a publicação é necessária a finalização de convênios com o governo federal no processo de segregação de vias com a MRS Logística, que é a concessionária que administra a malha ferroviária federal. O Estado confirma na nota que esses convênios estão em fase final de tratativas.
Ainda conforme o Estado, o valor atualizado de investimentos passou a ser de R$ 10,1 bilhões e o leilão deverá ser realizado entre 120 e 150 dias após a publicação do edital. A concessão já teve valor estimado inicialmente em R$ 7,5 bilhões. Foi atualizada em fevereiro para R$ 8,6 bilhões diante de mudanças no cenário econômico e agora passa a ser projetada acima dos R$ 10 bilhões.
O novo valor teve justificativa em reajustes referentes à compra de trens, que teve acréscimo de 7,7%, passando de R$ 1,67 bilhão para R$ 1,8 bilhão, na modernização da Linha 7-Rubi que passou de R$ 2,15 bilhões para R$ 2,6 bilhões, alta de 20,9%, e infraestrutura para serviços que passou de R$ 4,75 bilhões para R$ 5,8 bilhões, 22,1% de alta. Levando em consideração os pontos listados o valor do projeto estimado foi acrescido em 19%. Já o tempo de concessão previsto em 30 anos, passou para 35 anos.
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