Desde março de 1990 – quando aconteceu a última viagem do Vera Cruz -, um trem de passageiros não cruza a divisa entre o Rio de Janeiro e Minas Gerais. O projeto Rio-Minas pretende restabelecer a ligação férrea entre os dois estados através de um trem turístico, que inicialmente ligará Três Rios a Sapucaia, no Rio de Janeiro, passando por Chiador, em Minas. Só na reforma deste trecho, estão sendo investidos R$ 42 milhões pela FCA, concessionária da ferrovia.
Após a aprovação do projeto pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), foram iniciadas nesta semana as obras para que os trilhos do trem Rio-Minas possam receber vagões, locomotivas e passageiros. A previsão é que a reforma seja finalizada até o Natal deste ano e, após os testes e inspeções necessárias, o trecho seja inaugurado em fevereiro de 2023.
Em uma segunda fase do projeto, o trem passará por oito cidades ao longo da antiga Estrada de Ferro Leopoldina.: Três Rios e Sapucaia, no estado do Rio de Janeiro; Leopoldina, Recreio, Volta Grande, Além Paraíba, Chiador e Cataguases, em Minas Gerais, em um trecho de 168 quilômetros. Será a realização do sonho de dois entusiastas das ferrovias que, infelizmente, faleceram ao longo do caminho.
O ferroviário Paulo Henrique Nascimento fundou a ONG Amigos do Trem em 1999, em Juiz de Fora, com o objetivo de incentivar e preservar o transporte ferroviário. Vítima de um câncer no pulmão, ele morreu em 2018. O trem Minas-Rio era um dos projetos da entidade – é dele o restaurante no Trem de Prata, em Santos Dumont – e ganhou o apoio do empresário Joselmo Correa, proprietário do grupo Mil, uma rede de supermercados no Rio. Em 2017, Correa investiu R$ 1 milhão na compra de uma composição de 15 vagões e morreu em 2020, de Covid. Os vagões pertenceram à Vale na rota Belo Horizonte-Vitória (ES).
No percurso de 37 quilômetros entre Três Rios e Sapucaia, serão investidos R$ 42 milhões pela FCA. “Em 2015, a FCA parou de transportar carga neste trecho, que ficou desativado. Como concessionária da ferrovia, no entanto, ela tem que manter o trecho operacional”, explica Cyntia Nascimento, sobrinha de Paulo Henrique e atual presidente da Amigos do Trem. Segundo ela, os recursos serão utilizados na troca de trilhos e dormentes, correção de bitola, sistemas de drenagem, reforço de pontes e outras obras de infra e superestrutura da ferrovia.
A ONG fez a reforma das composições e, com a cessão de seis locomotivas pela Vale e FCA, levou o projeto às prefeituras. “Nós comprovamos a viabilidade do projeto e a possibilidade dele se manter”, diz a presidente da ONG. “As prefeituras já estão reformando as estações e a de Três Rios foi construída do zero. Inclusive, nosso projeto passa pela estação de Chiador, que é a primeira estação de Minas Gerais”, acrescenta.
Cada viagem levará 849 passageiros em finais de semana, feriados e datas comemorativas. Aproximadamente 300 mil pessoas serão atendidas diretamente pelo projeto, podendo chegar a 12 milhões na área de influência do trecho. O investimento total calculado pela ONG é de R$ 845.881,04 para o trecho entre Três Rios e Cataguazes, para gerar um faturamento anual de R$ 1.221.916,71.
O projeto Trem Turístico Rio-Minas prevê a geração de 50 empregos diretos na operação, mais 500 diretos e indiretos em Três Rios, que podem chegar a 2 mil no trecho inicial, dependendo dos investimentos para atrair turistas. “Estão sendo construídos hotéis, restaurantes e lojas em Três Rios, já com vistas ao projeto. Cada cidade irá oferecer um atrativo turístico, que será incluído nos pacotes criados pelo Trem Rio-Minas”, informa Cintia Nascimento.