Com dois contratos já assinados e de olho nas possibilidades da difusão do modal no país, o grupo fluminense MPE está investindo, em parceria com a empresa malaia Scomi, aproximadamente R$ 60 milhões na construção de duas fábricas de monotrilhos, uma no Rio de Janeiro e outra em Manaus. Mais adiantada, a fábrica carioca, no bairro de Santa Cruz (zona Oeste), será inaugurada no dia 24 deste mês e tem como sustentação o contrato para a construção dos 72 vagões que irão compor os 24 trens da linha 17 (Ouro) do Metrô de São Paulo, ligando a estação Jabaquara, da linha 1 (Azul), à estação Morumbi, da linha 4 (Amarela), com passagem pelo aeroporto de Congonhas.
A construção da fábrica do Rio de Janeiro consistiu, basicamente, na reforma de instalações já existentes e consumiu investimento de R$ 25 milhões. Segundo Adagir de Salles Abreu Filho, diretor-superintendente da MPE Montagens e Projetos Especiais, foi feito apenas um galpão novo de 1,8 mil m2 de uma área construída total de 7,5 mil m2 e uma área total de 41 mil m2. A fábrica pertence integralmente à MPE que participa, junto com a Scomi e as construtoras CR Almeida e Andrade Gutierrez, do consórcio responsável pela construção da linha 17 do monotrilho paulista.
Tanto a fábrica do Rio quanto a de Manaus terão incentivos fiscais. A primeira pagará apenas 2% de ICMS nas compras e vendas, segundo estabelece a legislação estadual chamada Rio Ferroviário. A do Amazonas receberá os incentivos previsto na lei da Zona Franca de Manaus.
A Scomi é uma das grandes fabricantes mundiais de monotrilhos, assim como a canadense Bombardier e a japonesa Hitachi. A Bombardier, em consórcio com a Queiroz Galvão, detém o contrato para a construção do Expresso Tiradentes, monotrilho de 23,8 quilômetros que é um prolongamento da linha 2 (Verde) do metrô paulistano.
No projeto da linha 17, a Scomi entrará com a tecnologia e fornecerá, diretamente da Malásia, o primeiro dos 72 carros, além de fabricar na Ásia todos os “trucks” (sistemas de rodas) e os sistemas eletrônicos dos veículos. De acordo com Abreu Filho, esses dois componentes serão os únicos que serão importados prontos e representarão 11% do preço dos trens. O restante será feito no Brasil, com partes importadas, mas com índice total de nacionalização, segundo ele, não inferior a 60%.
O projeto de Manaus será executado por uma associação formal entre a MPE (52,5%), a Scomi (37,5%) e a empresa de automação industrial Brassell (10%), batizada de Quark. Ela será subcontratada da Scomi na obra. A companhia da Malásia integra, junto com as construtoras Serveng, Mendes Júnior e CR Almeida, o consórcio encarregado de construir os 20 quilômetros do monotrilho de Manaus (Centro-Zona Norte) que deveria ser feito para a Copa do Mundo, mas que agora está previsto para ficar pronto em 2015.
A fábrica de Manaus custará aproximadamente R$ 35 milhões e o terreno já foi adquirido por R$ 190 mil da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa). Abreu Filho disse que a fábrica vai produzir 59 dos 60 carros (o primeiro será fabricado na Malásia) dos dez trens que irão operar no monotrilho amazonense. A ideia é que a fábrica do Rio dê apoio à unidade de Manaus, podendo também os tetos e pisos dos vagões amazonenses serem feitos na unidade carioca.
Segundo Renato Abreu, presidente do grupo MPE, a Quark será uma empresa voltada para disputar a construção de trens e também os sistemas operacionais (elétricos, eletrônicos, de telecomunicações e de sinalização) das redes de monotrilhos que venham a ser construídas no Brasil. Para ele, assim que o primeiro monotrilho de São Paulo entrar em operação, sua eficácia para operação em áreas já densamente povoadas com custo de construção relativamente baixo irá atrair a atenção de outras cidades e poderá haver um “boom” desse tipo de obra pelo Brasil.
Entre as vantagens do monotrilho, o executivo enumera a relativamente baixa ocupação de espaços, a possibilidade se ser construído com pouca ou nenhuma desapropriação e a operação silenciosa (o trem é elétrico), de baixo impacto ambiental, tanto do ponto de vista sonoro quanto de interferência na paisagem urbana.
Fonte: Valor Econômico, 03/01/2013