Para contornar a resistência do setor privado às concessões de ferrovias, o governo finaliza um modelo em que os recursos para bancar uma eventual inadimplência da Valec ficarão fora da empresa e acessíveis aos investidores. A estatal foi encarregada de adquirir toda a capacidade de transporte das ferrovias privatizadas. O temor dos investidores privados é que ao longo dos 35 anos de concessão o governo não coloque dinheiro suficiente no orçamento para que a empresa honre esses compromissos.
A ideia é que o governo crie uma garantia por meio de R$ 15 bilhões em títulos públicos emitidos pelo Tesouro Nacional à Valec. Esses papéis seriam custodiados por instituições financeiras, que funcionariam como agentes fiduciários. Por esse mecanismo, regido por contratos privados entre a Valec e os bancos, os concessionários de ferrovias poderiam acessar diretamente os recursos em caso de inadimplência do governo federal.
Pretende-se, também, aumentar as taxa de juros no financiamento das concessões de 1% ao ano, como foi anunciado pelo governo, para 1,5% mais a variação da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP). Os bancos federais argumentaram que 1% ao ano não seria suficiente para cobrir os riscos da operação. Outros detalhes ainda estão em discussão. As garantias equivalentes a R$ 15 bilhões em títulos públicos, por exemplo, não agradam o setor privado, que prefere ter valores específicos para cada concessão.
A imagem usada por uma autoridade em entrevista ao Valor é de um “trust”, instrumento que garantirá ao concessionário acesso aos recursos, mas ainda assim manterá a titularidade da Valec. É uma forma de fazer com que a estatal não reduza seu capital e as estatísticas do endividamento público não reflitam uma perda de patrimônio.
No modelo de concessão das ferrovias, a construção e operação dos trechos é feita pela iniciativa privada, mas a venda do direito de transporte fica a cargo da Valec, que se compromete revendê-lo aos interessados. O problema é que o setor privado não quer correr esse “risco Valec”. O fundo de R$ 15 bilhões poderia resolver o problema. Os papéis não seriam colocados todos de uma só vez e sim à medida que as concessões forem saindo papel.
Preocupa bastante o governo neste momento a decisão do TCU de reduzir os investimentos previstos no trecho Lucas do Rio Verde (MT)-Campinorte (GO), de R$ 6,4 bilhões para R$ 4,8 bilhões. Entende-se que isso inviabiliza a concessão. O Ministério dos Transportes pediu ao TCU que reexamine a questão e, enquanto isso, o processo de concessão das ferrovias segue parado. A intenção do governo é licitar pelo menos dois trechos em 2014: Lucas do Rio Verde-Campinorte e Açailândia (MA)-Bracarena (PA).
Fonte: Revista Ferroviária, 09/01/2014