O grupo de concessões de ferrovias América Latina Logística (ALL) divulgou ontem fato relevante à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) confirmando as negociações para um “arranjo societário” com a Rumo – braço logístico do grupo sucroalcooleiro Cosan.
A empresa “avalia soluções alternativas para a sua disputa judicial/arbitral com a Rumo [braço logística da Cosan]”, mas, segundo ela, não é possível prever o resultado das negociações, sendo o arranjo societário “apenas uma das potenciais alternativas, dentre outras possíveis, ainda em discussão entre as partes”.
Em outro comunicado, à tarde, a ALL destacou que continua “aberta a negociar com o governo novos desenhos para suas concessões”, respondendo um questionamento da CVM sobre necessidade de pesados investimentos entre Estrela D’Oeste e Campinas e daí até Santos. “As tratativas em discussão com o governo podem ou não resultar em desenhos operacionais diferentes dos atuais”, ressaltou. A ALL disse ainda que, por ora, o plano de negócios segue inalterado, com investimentos focados na expansão do volume transportado e ganhos de produtividade.
Conforme antecipou na última semana o Valor, uma possível fusão entre as duas empresas (ALL e Rumo) está sendo negociada como uma solução para o bilionário contrato de transporte de açúcar firmado em 2009 e que causou uma briga judicial entre as duas empresas. Hoje, ou a ALL transporta altos volumes para a Rumo ou paga pesadas multas.
No mercado, analistas se dividem sobre as consequências de uma eventual fusão com a Rumo. Na visão do banco UBS, a fusão com a Rumo deve ocorrer em condições favoráveis para ambas as companhias. Segundo os analistas Victor Mizusaki e Rodrigo Fernandes, se confirmada, a operação deve ser feita na forma de incorporação da Rumo pela ALL, para evitar que a Cosan tenha que fazer uma oferta pública de aquisição (OPA).
Os analistas lembram que o estatuto da ALL tem uma “pílula de veneno” que obriga qualquer acionista que atinja participação de mais de 20% na empresa a fazer uma oferta pela totalidade dos papéis. A exceção são casos de incorporação. Segundo eles, se ambas as empresas forem avaliadas pelo seu valor justo, a participação da Cosan na empresa resultante da fusão ficaria em 41,1%.
O atual bloco de controle – formado pelas famílias de Lara e Arduini e pelos fundos de pensão Previ, Funcef, além do BNDES e do fundo BRZ – teria uma fatia conjunta de 21,3%. A fatia das ações em circulação no mercado ficaria estável em 37,5%.
Já a corretora Concórdia acredita que há uma falta de clareza a respeito das negociações. As analistas Karina Freitas e Daniela Martins afirmam, em relatório, preferir ficar de fora das ações da companhia ferroviária e citam um possível “desconforto” do mercado com uma eventual fusão. “Vale lembrar que a possibilidade de entrada da Cosan no capital da ALL, no passado recente, já foi objeto de bastante desconforto por parte dos acionistas da operadora ferroviária”, diz texto assinado pela equipe da instituição. A Cosan ofereceu no começo de 2012 uma primeira oferta para entrar no controle da ALL, o que causou temores de parte do mercado. Depois de as negociações fracassarem, diretores da ALL chegaram a admitir que a entrada da Cosan traria conflito de interesses entre as duas empresas.
Fonte: Valor Econômico, 15/01/2014