A Prefeitura do Rio de Janeiro está finalizando uma campanha educativa para rádio e televisão, a ser veiculada a partir de abril, sobre o modelo inédito no país de pagamento pelo usuário do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT).
A novidade é que não haverá catracas ou cobradores: o pagamento é obrigatório, mas o passageiro vai embarcar e confirmar o débito da passagem dentro do vagão, sem um funcionário para certificar a transação. É o passageiro quem terá que confirmar o pagamento em um dos validadores instalados no trem, semelhante ao sistema existente nos transportes europeus.
O sistema de cobrança voluntário, como está sendo chamado por diretores do VLT, será realizado em todas 32 estações e ao longo do trajeto de 24 quilômetros que passa pela região portuária, rodoviária, aeroporto Santos Dumont, barcas, trem e metrô, além de trechos do centro da cidade. Terá capacidade de transportar 300 mil passageiros por dia.
O valor da passagem ainda está sendo avaliado e um estudo sobre a política tarifária, envolvendo reajustes futuros e a integração com outros modais, será finalizado até março. O tíquete, porém, não deve ultrapassar R$ 3,80, que é atualmente o preço das tarifas dos ônibus urbanos do Rio.
Nos termos do contrato de concessão, a Prefeitura do Rio estima um calote de cerca de 10%. A margem foi inserida no acordo para evitar que a concessionária reclame depois de um eventual desequilíbrio financeiro.
Esse é um sistema inédito no país, mas já adotado em cidades como Istambul, Dubai e em cidades francesas, como Bordeaux e Estrasburgo. A previsão é que o sistema VLT esteja em operação ainda este ano, antes da Olimpíada. A primeira fase, ligando a rodoviária Novo Rio ao aeroporto Santos Dumont, deverá ser entregue já em abril e será o primeiro teste do novo sistema de cobrança voluntário.
Se o passageiro for identificado no veículo sem ter pago a passagem, poderá receber multa entre R$ 115 e R$ 3.693, valores semelhantes ao que a prefeitura já cobra de infratores pegos pela operação Lixo Zero, que pune cariocas que jogam lixo nas ruas da cidade.
O secretário Especial de Concessões e Parcerias Público-Privadas (PPPs), Jorge Arraes, afirmou que haverá agentes fiscalizando o pagamento das passagens. A vistoria ficará por conta da concessionária, mas será feita de forma aleatória e não em todos os passageiros. O VLT funcionará 24 horas, todos os dias.
“O VLT tem como pressuposto não ter cobrador ou catraca dentro do trem. Quando o usuário entrar no trem encontrará entre oito e dez validadores em cada vagão. Fora, será possível comprar os bilhetes em terminais para serem validados no vagão”, explicou o secretário de Concessões e PPPs. O consórcio VLT Carioca, responsável pela construção e administração do sistema, é formado por CCR, Odebrecht Transport, Invepar, Riopar, pela francesa RATP e pela argentina Benito Roggio Transporte.
A obra do VLT deve custar R$ 1,157 bilhão. Desse total, R$ 532 milhões virão de recursos federais do PAC da Mobilidade, e R$ 625 milhões viabilizados por meio de PPP. De acordo com a concessionária Porto Maravilha, que administra o projeto, a obra está dentro do cronograma previsto.
A instalação do VLT é um dos principais projetos de mobilidade no programa de revitalização da zona portuária. Já estão na região o Museu do Amanhã, o Museu de Arte do Rio (MAR) e está em fase final de instalação o Aqua-Rio, o aquário com 5 milhões de metros cúbicos de água e 22 mil metros quadrados de área construída.
Estão previstos investimentos de quase R$ 8 bilhões na região em infraestrutura urbana e revitalização. O custo é bancado por meio dos Certificados de Potencial Adicional Construtivo (Cepacs), títulos usados para custear operações urbanas em áreas degradadas.
Em troca do direito de explorar o mercado imobiliário da região, a concessionária ficará responsável por serviços básicos, como coleta de lixo e manutenção da infraestrutura urbana, até 2030. Dos 32 trens do VLT, 27 estão sendo construídos no interior de São Paulo e 5 vieram da França.
Fonte: Valor Econômico, 12/02/2016