O transporte ferroviário no Brasil padece de muitas mazelas, dentro e fora das cidades. Mesmo nos maiores centros urbanos, há baixíssima cobertura geográfica de modalidades como o metrô e dos veículos leves sobre trilhos, ou VLT.
Fora dos municípios, a malha para o transporte de carga é ultrapassada e limitada. No setor de passageiros, quase inexistente.
Estudo da Confederação Nacional da Indústria mostra que cerca de 30% dos trilhos no país estão inutilizados e que 23% não têm mais condições de operar. Dos 28 mil km da malha ferroviária nacional, 8,6 mil km não estão em uso.
Desde 2001, o fluxo transportado por trens teve crescimento médio anual de 3,8%, mas quase que exclusivamente em razão da expansão do transporte de minério de ferro.
No transporte inter-regional de passageiros, os dois únicos serviços regulares em operação (Vitória-Minas e Carajás) deslocam apenas 1,2 milhão de pessoas por ano. Como comparação, a norte-americana Amtrak atende 32 milhões.
O atraso na área adentra as cidades. São Paulo e Rio, por exemplo, têm sistemas de metrô e VLTs relativamente organizados, mas incompatíveis com a demanda existente. No segmento de trens urbanos são recorrentes os problemas de segurança e atrasos.
Diante desse panorama, são lamentáveis as conclusões de duas recentes reportagens desta Folha.
Em São Paulo, a via que liga o centro da cidade ao aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, foi entregue em 2018 ao custo de R$ 2,3 bilhões. A linha 13-Jade possui trens que comportam 2.000 passageiros por viagem, mas eles têm transportado, em média, apenas 35 (2%).
Entre seus maiores problemas está o fato de a linha não chegar aos terminais do aeroporto, obrigando os usuários, carregados de malas, a tomar um ônibus para completar o trajeto. Mais R$ 175 milhões deverão ser gastos para reparar o imperdoável erro de concepção.
Em Cuiabá (MT), outro exemplo de descaso é o abandono das obras do VLT que ligaria o centro da cidade ao aeroporto Marechal Rondon. Prevista para terminar em 2014, a obra foi abandonada e, em seu percurso, restaram esqueletos e entulho que afugentaram o comércio e atrapalham o trânsito.
Em grave crise fiscal e com investimentos no mínimo histórico, o poder público no Brasil não pode mais se dar ao luxo de tocar obras desse tipo, sem viabilidade financeira ou com projetos descabidos.
Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2020/01/fora-dos-…
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