Terminou neste mês o período de restrição à venda (“lock up”) das debêntures incentivadas de infraestrutura emitidas pelo Metrô Rio em fevereiro. Nos últimos dias, os papéis passaram a ser oferecidos ao investidor de varejo e têm tido boa aceitação, o que chama a atenção de gestores por conta dos riscos embutidos no papel.
As debêntures somam R$ 1,2 bilhão, têm prazo de dez anos e 11 meses e, na oferta primária, saíram a IPCA + 7,08 %. Agora, ao varejo, estão sendo oferecidas a IPCA mais um spread ao redor de 6,20%. Como esse percentual ainda é acima da média desse tipo de papel hoje no mercado, tem chamado a atenção da pessoa física. Alguns gestores ouvidos pelo Valor lembram que, quanto mais retorno, maior também é o risco. Assim, o investidor papel precisa estar atento às perspectivas e dificuldades do negócio antes de comprar o título.
A concessionária Metrô Rio foi muito impactada pela pandemia, já que as medidas de isolamento, a paralisação de aulas presenciais e o trabalho em casa diminuíram o fluxo de passageiros. De 2019 para 2020, a queda na receita líquida foi de 48%, para R$ 418,4 milhões. No primeiro trimestre deste ano, o fluxo de passageiros caiu 2% em relação ao quatro trimestre de 2020 e foi equivalente a 45% do número registrado em 2019.
A queda da receita afetou a geração de caixa da empresa e também a capacidade de pagamentos das dívidas. No ano passado, o Metrô Rio conseguiu adiar por 12 meses o pagamento de juros e amortizações de dívidas com o BNDES e de uma antiga debênture. No fim de 2020, antes dessa nova emissão, a dívida da empresa era de R$ 1 bilhão – os recursos foram captados para refinanciá-la.
As tarifas da empresa são reajustadas pelo IGP-M, que teve forte elevação ano passado. Em março, a Agetransp autorizou reajuste de 26% na passagem, mas a empresa entrou em negociação com o Estado e acabou fechando a correção em 16%. Apesar de menor, o valor foi considerado adequado para a gestão nesse cenário ainda de incertezas. “É necessário continuar monitorando a evolução de casos de covid-19 e eventuais novas medidas de isolamento social, que seriam o principal ponto de atenção para a demanda dos serviços da companhia atualmente”, avalia Camilla Dolle, analista de renda fixa da XP, em relatório a clientes.
Sobre o reajuste, a analista pondera que, se por um lado ele aumenta as receitas da empresa, por outro pode afastar usuários – além de ônibus, em alguns trechos, há opções do trem da Supervia e do VLT. A XP classifica o papel como de “risco alto”.
A emissão tem carência para pagamento de juros e principal, que só começam em 2023, justamente para dar fôlego à empresa nesse cenário mais conturbado. Uma parcela de 30% da oferta primária foi encarteirada pelos bancos coordenadores – Santander, BTG Pactual, UBS e XP.
A Fitch atribuiu rating nacional de Longo Prazo “‘AA-(bra)” para a emissão. E observou que, devido à incerteza em relação à recuperação do tráfego de passageiros em função da pandemia, desenvolveu um cenário de estresse severo, que considera uma recuperação da demanda mais lenta, atingindo os níveis de 2019 somente em 2025. “Caso este cenário se materialize, as métricas de cobertura não serão compatíveis com a categoria atual de rating, e poderão levar a um rebaixamento”, diz a Fitch.
Para completar, o Metrô Rio é controlado pela holding Invepar, que negocia a entrega do controle da concessionária a dois credores, os fundos Mubadala e Farallon.
Fonte: valor.globo.com, 20/05/2021
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