Terminou a Rio+20, mas ainda ecoa no ar o chamado “Apito do Rio”, soado por uma locomotiva brasileira e replicado por trens no mundo inteiro, salientando as vantagens ambientais, econômicas e sociais do transporte sobre trilhos. Organizado pela Union Internationale des Chemins de Fer, o “apitaço” serviu de alerta para o grave descompasso entre o prazo de maturação de investimentos e a necessidade urgente de mais ferrovias e metrôs, soluções ideais para o tráfego de grandes volumes de carga e para o transporte público de massa.
O ponto absurdo a que chegaram as cidades é fruto da falta de planejamento integrado no sistema de transportes. O cenário, no entanto, vem mudando para melhor, em ritmo acelerado, graças aos investimentos das concessionárias de transporte ferroviário de carga, que já ultrapassam a faixa de R$ 30 bilhões. Desde 1997, quando entrou em vigor o atual modelo de concessões, o setor aumentou sua produtividade em 111,7%, reduziu em mais de 80% o índice de acidentes, gerou milhares de empregos, dinamizou a indústria de componentes ferroviários e ainda desonerou os cofres públicos dos prejuízos bilionários da extinta Rede Ferroviária.
Os benefícios ambientais gerados nesse período são uma vitória à parte. À medida que um maior volume de cargas passa a ser transportado pelas vias férreas brasileiras, desafogam-se parcialmente as rodovias, reduzindo consequentemente a emissão de gases poluentes. Para se ter uma ideia, um único trem composto por 100 vagões graneleiros, com capacidade para 100 toneladas cada vagão, substitui 357 caminhões graneleiros de 28 toneladas.
As vantagens ambientais das ferrovias são corroboradas pelo 1 Inventário Nacional de Emissões Atmosféricas do Transporte Ferroviário de Cargas. Em 2010, as ferrovias foram responsáveis por apenas 5% das emissões totais de CO2 do transporte de cargas terrestres no Brasil, enquanto os caminhões responderam por quase 91% do total. Com a utilização cada vez maior de modernas locomotivas movidas a biodiesel, a tendência é que as vantagens dos trens sejam mais expressivas.
O Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer. Precisamos investir com urgência mais de R$ 151 bilhões na eliminação de gargalos e na expansão da malha ferroviária. Assim será possível ampliar, dos atuais 25% para 35%, a participação do segmento na nossa matriz de transporte de carga – algo apenas um pouco mais próximo da realidade dos demais países desenvolvidos de grande extensão territorial, que concentram nas ferrovias cerca de 40% a 80% do transporte de cargas.
Rodrigo Vilaça é presidente-executivo da Associação Nacional dos
Transportadores Ferroviários.
Fonte: O Globo, 11/07/2012
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