O presidente da Empresa de Planejamento e Logística (EPL), Bernardo Figueiredo, vai deixar a chefia da estatal responsável por tocar o megaprograma de concessões, lançado como tábua de salvação da infraestrutura de transportes. Ele entregou o cargo à presidente Dilma Rousseff há mais de um mês. Ela pediu que continuasse no cargo até dezembro. O ex-ministro Paulo Passos deverá substituí-lo.
Figueiredo, um dos xodós da presidente desde que ela era ministra da Casa Civil, passou por longo processo de fritura. Em agosto do ano passado, quando Dilma anunciou o programa de concessões e surpreendeu integrantes do próprio governo com a criação da EPL, o economista foi alçado à condição de capitão na área de transportes. Quatro meses depois, em meio à discussão para o pacote de reforma dos portos, foi sacado das reuniões depois de o Palácio do Planalto ter desconfiado que ele vazava informações sobre as mudanças à imprensa.
Começou aí, na virada do ano, o processo de desgaste. Na forma, porque assessores presidenciais reclamavam que ele dava muitas entrevistas e aparecia demais. No conteúdo, porque colidiu com o secretário do Tesouro, Arno Augustin, e mais recentemente, com a ministra chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann.
Daí em diante, o presidente da EPL foi se afastando progressivamente das discussões internas e acabou se concentrando apenas no planejamento da logística de transportes, sem participação direta no desenho final dos leilões de rodovias, por exemplo. Empresários lamentaram a ausência. O setor privado dizia que Figueiredo era capaz de dialogar e levar ajustes ao Planalto nas concessões.
Além do baque sofrido com o adiamento do leilão do trem-bala, projeto que defende ardentemente, Figueiredo se sentiu sem espaço. Acha que o governo tem cometido equívocos ao acelerar o cronograma das licitações e buscar fazê-las a qualquer custo.
Ultimamente, Figueiredo tem dito a interlocutores que o Brasil tem o maior programa de concessões do mundo na infraestrutura, e seis meses de atraso para aperfeiçoar regras não devem preocupar quando se tenta recuperar um déficit de investimentos que dura três décadas. Para ele, a pressa obedece ao calendário eleitoral e à necessidade de “entregar” as concessões até a campanha.
Figueiredo pretende se dedicar agora à criação de um centro de referência em estudos de logística. “Que dê para ir e voltar do trabalho a cavalo”, disse a auxiliares, sem força de expressão, já que mora com a família numa chácara a 40 quilômetros de Brasília. Observadores do governo lembram que é uma saída parecida com a do ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, outro “queridinho” de Dilma que acabou se transformando em vítima de fogo amigo e foi progressivamente se afastando do núcleo duro de assessores presidenciais.
Paulo Passos, ex-ministro dos Transportes que saiu da pasta em março para reacomodar o PR no primeiro escalão, é um auxiliar de absoluta confiança da presidente e havia sido indicado para o comando da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).
Havia risco, no entanto, de que seu nome fosse rejeitado no Senado. A votação é secreta. Parlamentares se queixaram do fato de que, contrariando prática de embaixadores e até de indicados ao Supremo Tribunal Federal, ele não visitou nenhum gabinete no Congresso e não demonstrou interesse em busca de apoio político. Sob o risco de derrota, Dilma mudou a indicação e o nomeará à EPL, para onde não precisa ser sabatinado.
Fonte: Valor Econômico, 25/10/2013
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