Um projeto baseado no uso da tecnologia de levitação supercondutora (SML), desenvolvido desde o ano 2000 pelo Laboratório de Aplicações em Supercondutores da Coppe/UFRJ, inseriu o Brasil entre os países mais avançados na pesquisa para fabricação de trens de levitação magnética com circulação urbana, que trafegam com velocidade baixa, 70km/h. O fruto desse projeto é o MagLev-Cobra, primeiro trem de levitação fabricado no Brasil, que está em fase de testes na Ilha do Fundão desde 2012. Para 2015, o grande desafio, segundo o coordenador do projeto, o engenheiro Richard M. Stephan, professor titular da Coppe Engenharia Elétrica, é obter a certificação do MagLev-Cobra, a fim de torná-lo comercialmente viável.
Ainda em fase de protótipo, porém em estágio avançado de testes, com a inauguração em outubro de 2014 de um trecho para circulação de passageiros com 200 metros em plataforma elevada no campus da UFRJ, o MagLev-Cobra foi projetado com seis vagões, cada um com capacidade média de cinco passageiros por metro quadrado. Ele levita sobre trilhos de imãs terras raras, e Stephan explica que o nome é uma alusão ao movimento serpenteado dos vagões.
O MagLev-Cobra tem um motor movido a energia elétrica, com uma média de consumo 10% menor do que o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT). Para manter a levitação, cada vagão tem seis criostatos, abastecidos por nitrogênio líquido. Cada criostato tem capacidade máxima para três litros de nitrogênio.
Podemos dizer que estamos avançados nesta pesquisa, uma vez que aplicações com SML só se tornaram possível a partir da década de 80, com o desenvolvimento dos ímãs de terras raras, em 1983, e com a sintetização dos supercondutores de elevada temperatura crítica, em 1987, diz Stephan.
Semelhante ao projeto da Coppe, que usa a tecnologia SML para o desenvolvimento de trem de levitação, há outros dois no mundo. Também em fase de testes, porém com percursos menores. Na China, na cidade de Chengdu, os testes são feitos em um trecho de sete metros. Na Alemanha, em Dresden, os testes ocorrem em uma área com percurso total de 30 metros.
Vantagem sobre o VLT
Stephan explica que, com relação ao VLT, o MagLev-Cobra apresenta vantagens, porque tem baixo impacto ecológico. Na prática, isso significa baixo consumo de energia, baixo ruído audível e reduzido impacto de construção civil. O Maglev não perturba a vida da cidade. Não há riscos de atropelamentos, porque a plataforma é elevada, cerca de três a quatro metros de altura, em média. A cidade pode viver sem intervenções abaixo da plataforma.
O coordenador do projeto, diz ainda que é uma forma de conferir mais qualidade à mobilidade urbana, embora não seja classificado como transporte de massa. Ele não substitui o metrô, cuja capacidade é de 12 pessoas por metrô quadrado, mas pode ajudar na capilaridade, já que o custo de implantação é menor. Ainda é cedo para termos um custo exato, mas estimo que, para cada um quilômetro de estação do Maglev, o custo total chegue a R$ 30 milhões. No metrô, o custo médio por quilômetro está na faixa de R$ 100 milhões, detalha.
No perímetro urbano, uma das aplicações mais viáveis para o trem de levitação seria atuar como integrador de polos geradores de viagem, como aeroportos, terminais rodoviários e locais de trânsito intenso de pessoas, como o Shopping Nova América.
É perfeitamente viável, por exemplo, construir um trecho de trem de levitação entre o Aeroporto Santos Dumont e a Cinelândia, no Centro do Rio de Janeiro. Outra possível aplicação seria interligar a futura estação do metrô na Barra a bairros próximos, como Jacarepaguá. Em um projeto com MagLev, o ideal é ter estações a cada um quilômetro, detalha Stephan.
Um dos maiores impactos no custo é o trilho de ímãs terras raras. Stephan diz que comprou os ímãs da China para fazer o projeto do Maglev-Cobra, mas que o Brasil tem condições de desenvolver essa indústria. Se o MagLev for uma opção de transporte, haverá demanda, e podemos impulsionar essa indústria no país, assim como o mercado de supercondutores e de vagões leves, afirma.
O coordenador do projeto comenta que os trens de levitação de alta velocidade, que alcançam 450km/h, também são realidade em alguns países, como Japão, China e Alemanha. Mas, na visão do professor da Coppe, são projetos de pouca viabilidade econômica, porque o custo para compor o trilho de ímã de terras raras é muito alto. Na Coppe, os custos de manutenção desse trilho ainda estão sendo estudados.
Em apresentação para os integrantes do CBPF (Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas), em 31 de março, Stephan explicou os detalhes do uso da tecnologia para fabricação de trens de levitação, que podem ser desenvolvidos também por métodos de EDL (levitação eletrodinâmica) e EML (levitação eletromagnética). Esses trens estão em funcionamento nos EUA, China, Japão e Coréia do Sul.
Fonte: Jornal da Ciência, 06/04/2015