O Brasil vive a terceira onda de investimentos da China, agora voltados para infraestrutura e energia, apontam especialistas. O foco dos recursos chineses passou de matéria-prima no fim dos anos 90 e início do século XX, para a indústria a partir de 2005, e agora chega a dois setores estratégicos para a economia brasileira. Com ampla experiência em investimentos em infraestrutura – que foram o motor do forte crescimento chinês dos últimos anos -, o país asiático agora está de olho nas oportunidades nessa área aqui.
– Há uma espécie de evolução dos investimentos chineses no Brasil. Já estamos vendo uma terceira fase, sem que as demais tenham se esgotado. Isso começou em energia, com a State Grid, e agora há muito interesse em ferrovias. Os chineses estão esperando pelos leilões – afirma o chefe do setor de Promoção Comercial e de Investimentos da embaixada brasileira na China, Guilherme Belli.
Quem procura a embaixada em Pequim atualmente, diz ele, está interessado principalmente ferrovias, energia e indústria automobilística. Na visita de Xi Jinping, foi assinado um memorando de entendimentos na área. Em agosto, a China Railway Eryuan Engineering Group Co (CREEC, na sigla em inglês) foi qualificada para desenvolver um estudo de viabilidade técnica para o trecho entre Sapezal (MT) e Porto Velho (RO) da ferrovia Transoceânica, cujo projeto é ligar o Brasil ao Pacífico.
– As empresas chinesas têm ido ao Brasil para conhecer a legislação, mas estão aguardando a realização dos leilões e licitações. Todos os grandes grupos de ferrovias da China querem atuar no Brasil, desde o fornecimento de vagões e locomotivas a construção e administração de ferrovias – diz Belli.
O setor é que o eles chamam de win-win situation, explica o diplomata: há o ganho pelo investimento na área e também as vantagens de se ajudar a construir uma logística mais barata e eficiente no Brasil para o escoamento de produtos para a China.
A percepção desse potencial de investimentos chineses na área de infraestrutura é tão grande que a Confederação Nacional do Transporte (CNT) montou, há um ano, um escritório na China. A ideia é ajudar a buscar esses investidores e, ao mesmo tempo, explicar quais são as oportunidades hoje no país e o funcionamento do mercado brasileiro, além de funcionar como um elo entre as empresas brasileiras e chinesas.
– O Brasil tem uma necessidade de quase R$ 1 trilhão em investimentos em infraestrutura e projetos urbanos. As empresas chinesas estão interessadas e com bastante apetite para essas oportunidades – afirma José Mario Antunes, que é o executivo responsável pelo escritório em Pequim.
Belli e Antunes não veem o crescimento mais fraco da economia brasileira como um obstáculo para a vinda dos yuans. O chefe do setor de Promoção Comercial e de Investimentos da embaixada brasileira na China diz que esta não tem sido uma preocupação de quem procura a representação do Brasil em Pequim:
– Os chineses sabem o potencial da economia brasileira a longo prazo e investem com esse foco.
A avaliação é compartilhada pelo diretor-presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet) Luís Afonso Lima, que também é economista da Mapfre Investimentos. Ele afirma que o baixo crescimento pode até influir a curto prazo, mas a tendência é de alta dos investimentos chineses no país.
– Os investimentos iniciados em 2011, por exemplo, podem ser feitos até 2018. A China é um investidor relativamente novo no Brasil e a tendência é de aumento desses aportes. O país acumulou muitas reservas e há um excesso de poupança – afirma o presidente da Sobeet.
Fonte: O Globo, 13/04/2015
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