Douglas Rosa da Silva, de 36 anos, saiu de casa, na Freguesia, na última quinta-feira, empolgado para conhecer o AquaRio. Comprou com antecedência o ingresso de R$ 60 e, no trajeto, aproveitou para andar pela primeira vez de Veículo Leve sobre Trilhos (VLT). Foi aí que o entusiasmo deu lugar ao aborrecimento. De tão admirado com o bonde moderno, diz ele, esqueceu-se de pagar a tarifa, que custa R$ 3,80. O descuido saiu caro: levou uma multa de R$ 170.
Desde 5 de setembro, quando teve início a aplicação da penalidade para os flagrantes de não pagamento, os guardas municipais que atuam no VLT já emitiram 2.725 infrações, com 23 casos de reincidência. A média é de mais de 20 multas por dia. Para quem volta a cometer a infração, o valor sobe para R$ 255.
— Entendo a multa, mas acho o valor muito alto. Eu não conhecia o sistema, fui pego de surpresa — tentou argumentar Douglas, sem sucesso, antes de receber a notificação, que é impressa na hora.
O pagamento do VLT é feito somente com o Bilhete Único (BU) Carioca, e cada passageiro precisa ter o seu próprio cartão. O BU pode ser comprado em qualquer estação. Como não há catraca nem cobrador nos bondes, o próprio passageiro precisa validar o cartão em totens. Para quem não fizer isso, seja por esquecimento ou por má intenção, a fiscalização é implacável.
— Caso fique comprovado que o usuário não validou a passagem, ele é multado, independentemente de ter ou não créditos no cartão — alerta Paulo Ferreira, gerente de operações do VLT.
Inconformado, Douglas vai recorrer da infração. Assim como ele, outros 373 multados tentam reverter o prejuízo.
Só 10% das multas pagas
Das multas emitidas até hoje, apenas 270, cerca de 10% do total, foram pagas. Quem não quitar o débito pode ser encaminhado para a Dívida Ativa do Município.
A principal reclamação dos passageiros, sobretudo os que fazem sua estreia no VLT, é a falta de informações.
— Eu cheguei a entrar, mas vi alguém passando o cartão e voltei. No ônibus, a gente paga a passagem antes de entrar. É uma novidade, e realmente acho que falta informar melhor — diz Gilson César de Freitas, de 47 anos.
O consórcio diz que procura ampliar canais de informação e ressalta que cada estação tem todos os dados expostos, assim como agentes dispostos a tirar dúvidas.
Dentro de cada VLT, há sempre um agente de fiscalização que atua em conjunto com um guarda municipal. Os fiscais têm um equipamento que lê o BU e descobre quando e onde foi feito o último pagamento. Se houver incompatibilidade com a atual viagem, o guarda municipal entra em ação. A partir do CPF do passageiro, ele emite na hora a notificação, com as instruções para a retirada da multa.
Nem mesmo os turistas se safam da penalidade. Para os estrangeiros caloteiros, a multa é aplicada pelo passaporte.
Novo trecho prometido para este mês
Falta pouco para o VLT expandir seus caminhos. Depois de prometer para a primeira quinzena de janeiro o período de experimentação do trecho Saara-Praça Quinze, o consórcio agora garante que até o fim deste mês terá início a operação da nova linha.
No percurso, os passageiros terão acesso às paradas Praça Tiradentes e Colombo, esta última na altura da Avenida Rio Branco, onde haverá conexão com o eixo Rodoviária-Santos Dumont, na estação Sete de Setembro.
Além disso, poderão conhecer um pouco da história da cidade, já que parte dos 500 achados arqueológicos das obras do sistema foram encontrados nesse trajeto, com 343 pedras preservadas entre os trilhos pelos quais passa o bonde.
O motorista Cláudio da Cruz, de 32 anos, vê com bons olhos a expansão do sistema.
— É um meio de transporte bonito e confortável. A gente precisava disso. O ideal seria que tivesse todas as linhas previstas no projeto inicial. Mas o que vier é lucro — diz.
O projeto original, apresentado em 2013, previa seis linhas, com 42 paradas, incluindo estações na Rodoviária e na Central do Brasil, distribuídas por 28 km de vias do Centro e da Zona Portuária.
Fonte: Jornal Extra, 09/01/2017
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