Estudo que vai definir ações concretas só ficará pronto em outubro
RIO – O governador Luiz Fernando Pezão e o prefeito Marcelo Crivella assinaram na manhã desta terça-feira um acordo de cooperação para a revitalização da Central do Brasil. A promessa é transformar a estação em um terminal multimodal, com intervenções que vão desde o reordenamento do fluxo de passageiros até a construção de um shopping sobre as plataformas. Também está prevista a reforma de ruas, calçadas e prédios no entorno, entre outras medidas. Durante o encontro, no entanto, não foram detalhadas ações concretas e nem o investimento necessário. Tampouco foi apresentado um cronograma para o projeto.
O projeto, que está incluído em um acordo de cooperação técnica já firmado entre Secretaria estadual de Transportes e a Agência Francesa de Desenvolvimento, conta com três fases: análise e diagnóstico da situação atual; produção de cenários e estimativas de custos; e estudo detalhado com um plano de negócios. Apenas a primeira delas foi concluída. De acordo com o secretário estadual de Transportes, Rodrigo Vieira, o estudo deve ficar pronto em outubro. Só a partir daí, serão definidas intervenções a curto, médio e longo prazo.
— A prefeitura terá ações voltadas para as ruas do entorno. Já o estado terá ações mais internas. Principalmente, a sinalização, o ordenamento de fluxo e o posicionamento das coisas dentro da Central do Brasil, como o ponto de informação, a bilheteria e a ocupação comercial. Isso tudo está sendo estudado para que os fluxos sejam otimizados — diz Vieira.
Cerca de 600 mil pessoas circulam diariamente pelo terminal. Com as ações de reordenamento e o fomento a novos investimentos, a expectativa é que esse fluxo aumente para um milhão de pessoas por dia.
O caso europeu que tem norteado os estudos para o projeto é o da Gare Saint-Lazare, um dos seis terminais ferroviários de Paris e o mais antigo da capital. Em 2012, um shopping com 80 lojas e restaurantes foi inaugurado no terceiro andar do edifício.
O projeto contempla também a proposta de concluir um shopping sobre as plataformas, uma ideia elaborada há cinco anos pela SuperVia, mas que ainda depende de autorização do Iphan para seguir adiante, pois o prédio da Central, construído em 1943, é tombado.
O orçamento das intervenções necessárias para o projeto de revitalização da Central ainda não foi estimado. Segundo Rodrigo Vieira, ainda não há definições sobre o financiamento das obras.— Quando as ações forem pontuadas, cada ente vai buscar suas fontes através das concessionárias. Faremos atuações nas áreas dos nossos modais e a prefeitura vai identificar as fontes de custeio — diz o secretário.
CEM CONVIDADOS
A assinatura do convênio aconteceu na sala nobre de recepção do Palácio da Cidade, em Botafogo, em um evento que contou com mais de cem convidados, entre secretários, vereadores e representantes de concessionárias de serviços públicos. Antes de tomar a palavra, Crivella saudou nominalmente 36 pessoas presentes. Em seguida, debochou ao dizer que queria “agradecer a presença de todos a mais uma reunião secreta do prefeito”, referindo-se ao evento intitulado “Café da Comunhão”, ocorrido no mês passado, durante o qual o prefeito ofereceu benefícios a pastores de igrejas evangélicas.
— Quando nós chegamos ao coração da cidade, a estação Central, a impressão que se tem hoje é que o Rio de Janeiro está desarticulado. Nós vemos uma confusão danada. Tem ambulantes para todos os lados, a iluminação não é adequada, as calçadas não são adequadas. É sobre tudo isso que estamos discutindo agora nesse esforço entre estado e município — disse o prefeito, que aproveitou para tecer elogios ao governador — Pezão sempre foi extremamente prestativo e inteiramente voltado para as questões do nosso estado.
Durante o evento, Crivella não mencionou o projeto de fazer no Rio um “High Line” como o de Nova York, sobre a Central do Brasil. Em novembro, o prefeito assinou um acordo com a empresa russa Olympic City Group que se dispôs a desenvolver, sem custos para o município, uma pré-proposta de projeto de Parceria Público-Privada para construir uma “cidade suspensa” sobre a linha férrea entre a Central do Brasil e a estação da Leopoldina. A obra era estimada em R$ 8 bilhões, que deveriam ser captados junto à iniciativa privada.
O prefeito deixou o evento sem falar com a imprensa. Em nota, a subsecretaria de projetos especiais da Casa Civil limitou-se a dizer que “o projeto está em fase de estudos”.
A quatro meses de deixar o governo, Luiz Fernando Pezão pouco falou sobre o projeto de revitalização do terminal, durante o evento. Ao tomar a palavra, aproveitou para fazer um balanço de sua gestão. Mencionou o plano de recuperação fiscal, lembrou que fez investimentos em obras para o fornecimento de água para a Baixada Fluminense, afirmou que o fluxo de passageiros do bondinho de Santa Teresa aumentou em 38%, e até citou a abertura de uma filial no Rio da Le Cordon Bleu, prestigiada escola francesa de gastronomia.
Fonte: O Globo, 07/08/2018
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