Ferrovias paradas há mais de um ano causam prejuízo milionário

Jean Pimentel / Agencia RBS

Vagões estão abandonados e trilhos parados em Passo Fundo. Jean Pimentel / Agencia RBS

GZH – Paradas desde a enchente de 2024, as ferrovias gaúchas já causam prejuízo milionário a empresários que dependiam dos trilhos para transportar seus produtos. Só em uma fabricante de biocombustíveis de Passo Fundo, por exemplo, a interrupção desse meio forçou um aumento nos gastos em R$ 8 milhões em 2025.

O valor representa a contratação de frete por caminhão para transportar o produto — até a enchente, o material era distribuído via modal ferroviário.

— Em função da não utilização da ferrovia, vamos usar 3,5 mil caminhões a mais só na unidade de Passo Fundo. E não é só a Be8: aqui ao lado temos o polo de combustíveis que deve usar 20 mil caminhões a mais só em 2025 pelo fato de que não há ligação via ferrovia entre a cidade e as refinarias  — disse o diretor presidente da Be8, Erasmo Battistella.

A situação é acompanhada de perto pelo Ministério Público Federal (MPF). Na última semana, o órgão pediu que a concessionária Rumo explicasse por que estava retirando os trilhos em trechos da malha ferroviária do Rio Grande do Sul.

A situação evidencia o abandono das ferrovias gaúchas. A linha que liga Passo Fundo ao resto do Estado está parada desde as enchentes e continua sem operação. Além de não reparar os danos, em alguns trechos os trilhos foram retirados.

Outras cidades gaúchas relatam a mesma situação. É o caso de Santa Tereza, na Serra, que viu a retirada de parte dos trilhos na última semana.

— Não podemos pensar apenas no município; é uma perda econômica para todo o Estado. Antes tínhamos trens passando duas a três vezes por dia, transportando cargas importantes como combustível e grãos. É inadmissível ver essa situação — disse a prefeita de Santa Tereza, Gisele Caumo.

— Não nos parece adequado retirar os melhores trilhos (do RS) para levar a outro Estado, enfraquecendo ainda mais a possibilidade de novos projetos ferroviários no Rio Grande do Sul — completou o procurador da República, Osmar Veronese.

Em nota, a Rumo confirmou a retirada dos trilhos para garantir a segurança da operação em São Paulo, Paraná e Santa Catarina, mas afirmou que a ação segue as normas do setor (leia a nota completa na íntegra).

Contrato de concessão termina em fevereiro de 2027

O contrato da Rumo para a concessão das ferrovias gaúchas vai até fevereiro de 2027. Depois das enchentes, metade da malha ferroviária que estava em operação no Estado foi danificada. Hoje, só funciona a linha que liga Cruz Alta ao Porto de Rio Grande. Ou seja, dos mais de 3,2 mil quilômetros de ferrovias no Estado, só funcionam cerca de 800km.

Antes da enchente, a situação já era crítica: levantamento do governo estadual mostra que quase 1 mil quilômetros de ferrovias já estavam fora de operação em 2023.

Mas o problema começou muito antes: nos últimos 18 anos, o volume de cargas transportadas por trens no RS caiu pela metade. A má qualidade dos trilhos reduz a velocidade média dos trens para apenas 12 km/h, a quarta menor do Brasil. Em alguns trechos, árvores cresceram sobre os trilhos e houve casos de furto de material.

No noroeste gaúcho, a retirada dos trilhos inviabiliza o transporte ferroviário para o restante do Estado. Municípios como Santo Ângelo, Giruá, Santa Rosa e São Luiz Gonzaga, importantes na produção de grãos, poderiam escoar a safra pela ferrovia, mas não o fazem por causa da falta de infraestrutura.

— Estamos chegando ao fim do contrato sem um projeto para o futuro. É um patrimônio público que corre risco de desaparecer — alertou Veronese.

Além do transporte de grãos, há preocupação com o turismo. O Trem dos Vales, que faz rota de Guaporé a Muçum, segue parado. A Associação dos Municípios de Turismo do Vale do Taquari (Amturvales) busca recursos para reconstruir o trecho.

— Estamos em busca de um convênio para que o governo do Estado repasse recurso para a retomada dos trilhos entre Muçum e o Viaduto V13, que é a primeira etapa para retomar o passeio nessa ferrovia — disse o presidente da entidade, Rafael Fontana.

O que diz a Rumo sobre a retirada dos trilhos no RS 

Leia na íntegra:

“A concessionária informa que realiza, de forma contínua, ações de manutenção em diferentes trechos da ferrovia e que a realocação de trilhos e outros materiais faz parte de um processo de remanejamento para pontos da malha sul que seguem em operação. Essa movimentação é feita dentro das normas do setor, com autorização do poder concedente, e prevê obrigações de recomposição ou indenização, quando aplicáveis. A iniciativa tem como objetivo preservar a integridade da malha e garantir a segurança das operações.

A empresa ressalta ainda que permanece em diálogo com o Governo Federal sobre a situação da infraestrutura ferroviária no Rio Grande do Sul, fortemente impactada pelas enchentes de 2024, e segue atuando dentro de todas as autorizações legais e regulatórias emitidas pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT)”

Fonte: GZH, 26/11/2025

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