A Vale vinha amadurecendo há alguns anos a ideia de substituir os trens de passageiros da empresa. Em 2014, o projeto começa a ser implementado. A primeira linha a ter os comboios renovados, a partir do fim de março, será a Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM), que transporta um milhão de passageiros por ano. No primeiro semestre de 2015, será a vez de os novos carros, com padrão europeu de qualidade, chegarem à Estrada de Ferro de Carajás (EFC), entre o Pará e o Maranhão, na qual viajam 350 mil pessoas todo ano.
A Vale vai investir US$ 135 milhões no programa de renovação dos trens de passageiros. Desse total, US$ 80,2 milhões estão sendo aplicados na compra de 56 novos carros ferroviários para a EFVM. Serão 10 carros de classe executiva e 30 de categoria econômica, além de veículos de apoio como vagões-restaurante, lanchonete, gerador e um vagão específico para cadeirantes (pessoas com dificuldade de locomoção). A empresa vai aplicar ainda US$ 55 milhões na compra de 39 carros para a EFC.
Os novos trens foram encomendados à romena Astra Vagoane. Na licitação aberta pela Vale, não se encontrou um fabricante nacional que atendesse a todos os requisitos exigidos pela mineradora. Segundo a Vale, trata-se de um novo trem de passageiros para longas distâncias, algo não comum no Brasil, com características técnicas muito específicas. As questões técnicas e econômicas foram fundamentais, portanto, para a escolha do fornecedor, que já conhecia o projeto. A Vale afirmou, no entanto, que sempre busca fornecedores no Brasil.
Vicente Abate, presidente da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (Abifer), disse que a escolha da Astra teve razões comerciais uma vez que a indústria brasileira não foi competitiva em relação aos romenos em termos de preços. Segundo Abate, o volume da encomenda não era muito grande e havia ainda diversos tipos de carros a serem produzidos. Como a Astra já havia fornecido vagões para a Vale, a empresa romena tinha o projeto, outro diferencial a seu favor na concorrência. Abate reconheceu, porém, que a mineradora fez esforços para contratar a encomenda no país.
As duas ferrovias que estão tendo os comboios de passageiros renovados têm papel estratégico para a Vale no transporte de cargas. Sobretudo para o minério de ferro produzido pela empresa em Minas Gerais, escoado via EFVM, e em Carajás, no Pará, transportado via EFC. Mas as duas malhas também cumprem um papel social importante ao facilitar a mobilidade das pessoas que vivem em comunidades ao longo das operações da companhia, disse Zenaldo Oliveira, diretor de operações logísticas da Vale. “Estamos fazendo um investimento que busca trazer mais conforto para as comunidades que utilizam o trem”, afirmou.
O transporte de passageiros é uma obrigação para a Vale no contrato de concessão. A cláusula quinta do contrato determina que cabe à concessionária prover os investimentos que assegurem a prestação do serviço adequado, segundo a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Os investimentos nos novos trens foi uma decisão da Vale sem que houvesse qualquer demanda da agência. Entre as exigências da concessão, aparecem a prestação do serviço em condições de regularidade, continuidade, eficiência, segurança e modicidade tarifária.
Pesquisa realizada pelo Instituto Futura, sob encomenda da Vale, mostrou aprovação dos usuários com o serviço. O estudo apontou índice de satisfação acima de 83% em relação aos serviços e ao atendimento realizados no trem de passageiros e nas estações da EFVM. O estudo mostrou que 40% dos entrevistados embarcam a passeio, enquanto 13,5% utilizam o transporte ferroviário a trabalho. Outros 25% viajam de trem para visitar parentes e amigos e quase 8% para cuidar da saúde.
A viagem entre Belo Horizonte (MG) e Vitória (ES) demora cerca 13 horas e cada trecho custa R$ 91 na executiva e R$ 58 na econômica. Mesmo com os trens novos, o tempo de viagem vai permanecer o mesmo pois a EFVM é uma ferrovia com relevos, diferente de países da Europa. O trem de passageiros da EFVM é o único serviço diário do Brasil que percorre longas distâncias (664 quilômetros) interligando duas regiões metropolitanas ao longo das quais passa por 42 municípios.
Na EFC, no Norte, a passagem custa R$ 110 na executiva e R$ 55 na econômica. A frequência é de três vezes por semana. O trem percorre 860 quilômetros entre Parauapebas (PA) e São Luís (MA), passando por 27 municípios.
O que fará diferença nos novos trens é a tecnologia e o conforto a bordo. Os comboios serão climatizados nas duas classes e terão tomadas elétricas individuais nas poltronas para carregamento de aparelhos eletrônicos. Os carros da executiva vão contar com sistema de som e iluminação individuais. O carro executivo, hoje com capacidade para 78 lugares, passará a ter 60 vagas. A econômica, que opera com média de 70 lugares, passará a contar com 79 vagas.
Fonte: Valor Econômico, 13/01/2014
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