Presidente da Aenfer fala da retomada do setor ferroviário

Setor ferroviário impulsiona indústria e formação de profissionais

O momento não poderia ser mais propício para o desenvolvimento do setor ferroviário no Brasil. No dia 15 de agosto, o governo Federal lançou o Programa de Investimentos em Logística. O pacote prevê a concessão de dez mil quilômetros de ferrovias e investimento de R$ 91 bilhões para os próximos 25 anos no setor.

Alguns dados do Balanço Anual do Transporte Ferroviário de Carga também são animadores. Segundo as informações da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF), os investimentos no setor chegaram a R$ 29,97 bilhões, entre 1997 e 2011. Neste ano, a estimativa é que os investimentos atinjam a marca de 5,3 bilhões. As concessionárias associadas da ANTF preveem a aquisição de 2 mil locomotivas, 40 mil vagões e 1,5 milhão de toneladas de trilhos até 2020.

De acordo com o presidente-executivo da ANTF, Rodrigo Vilaça, embora o Programa do governo federal e os investimentos sejam promissores, há alguns obstáculos pela frente. “Temos alguns frutos do processo de desestatização que precisam de solução. São algumas questões burocráticas que devem ser resolvidas pela União, como a sucata de locomotivas e vagões”, explica. Vilaça enumera outros problemas, como os 38 mil processos trabalhistas do setor em aberto e as mais de 200 mil famílias que ocupam áreas irregulares na faixa de segurança das ferrovias.

Indústria

Para a Norgren do Brasil, fabricante de equipamentos pneumáticos, as recentes notícias de novas concessões confirmam o planejamento acertado no setor ferroviário. Anderson Santos, Kam do setor ferroviário da empresa, explica que os anúncios de grandes investimentos no setor ainda não refletiram no aumento de vendas e calcula que isso deverá ocorrer a partir do primeiro trimestre de 2013. Com a ampliação da fábrica em São Paulo, a divisão ferroviária também ganhou mais espaço na planta. “Estamos desenvolvendo alguns projetos-piloto e esperamos iniciar o próximo ano com um market share de 10% no setor”, comenta Santos.

De acordo com a gerente de marketing da empresa, Keny Conde, os investimentos no setor ferroviário estão programados para o longo prazo, assim como no setor de óleo e gás. Essa postura de cautela é a mesma da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). Para a entidade, os novos pacotes são bem-vindos, principalmente com a inclusão do modelo de parceria público-privada, mas as concessões não são definidas rapidamente e o impacto na movimentação da economia pode demorar.

Outra empresa que espera investir mais no setor ferroviário é a Kortech-Korloy, representante da Korloy Inc. A Kortech-Korloy comercializa há alguns anos ferramentas para usinagem dedicadas ao setor metroferroviário. De acordo com o diretor da empresa, Helio Sesso, nos últimos cinco anos a demanda por novos processos e novas tecnologias desenvolvidas para o setor ampliaram as oportunidades para aplicação desse tipo de produto. Sesso acredita que com o Programa de Investimentos em Logística, a demanda por essas ferramentas e equipamentos aumente.

“O transporte ferroviário é um segmento que oferece muitas oportunidades para geração de novos empregos e também para o desenvolvimento da Industria Nacional trazendo no seu bojo uma ampla perspectiva para os empresários brasileiros fazerem grandes investimentos de longo prazo neste setor”, explica Sesso. O diretor afirma que a expectativa é que à medida que os investimentos se concretizem, as ferramentas voltadas ao setor ferroviário respondam por 20% do volume total das vendas da Kortech-Korloy. Fresas para usinagem de trilhos para trens de média e alta velocidade e brocas especiais para furação de trilhos “in-loco” com insertos intercambiáveis são alguns dos produtos comercializados pela Kortech-Korloy.

A Usitec também atua no segmento e comercializa peças de recuperação e reposição do setor ferroviário desde o ano de 2002. As peças como válvulas, flanges, eixos, buchas, tirantes e sapatas voltadas para a recuperação de vagões e locomotivas de carga respondem atualmente por 75% do faturamento da Usitec.

Segundo o sócio-administrador da empresa, Marcos Vozniaki, as concessionárias não investem  e preferem consertar. “Elas não inovam ou renovam, os investimentos maciços ficam em torno do setor rodoviário por incentivos do governo. Esperamos que com as novas concessões, grande parte dos investimentos seja destinada à renovação de ferrovias e equipamentos ferroviários”, defende Vozniaki. Ele garante que se houver o aumento esperado de demanda, a empresa investirá mais em máquinas, mão de obra especializada e infraestrutura.

O presidente-executivo da ANTF, Rodrigo Vilaça, afirma que a indústria voltada ao setor metroferroviário atende à demanda atual. “As indústrias estão inovando para acompanhar as mudanças, trazendo inclusive tecnologia de outros país para aplicar em empresas daqui”, comenta.

Profissionais

As concessionárias ferroviárias geraram um crescimento de 148,8% em empregos diretos e indiretos, ao se comparar o ano de 1997, quando se tinha quase 17 mil profissionais, com o de 2011. Segundo dados da ANTF, até o final deste ano cerca de 44 mil trabalhadores devem estar no setor, dentre profissionais das diferentes engenharias, de logística e planejamento e gestão, além do pessoal de nível técnico.

As estimativas, de acordo com Vilaça, é que nos próximos anos sejam gerados cerca de cinco mil empregos a cada ano no setor metroferroviário. Dentro de uma década, o número de trabalhadores chegaria a 100 mil. “Iremos promover a formação de uma nova geração de profissionais da área ferroviária, por isso já estamos fechando parcerias com algumas instituições de ensino. Um dos objetivos é retomar a carreira de engenheiro ferroviário, formação extinta desde 1960”, diz Vilaça.

A ANTF já negocia uma parceria com a Universidade de Juiz de Fora (MG) e outras 12 universidades para voltar com o curso de graduação em engenharia ferroviária. Além disso, já oferece alguns cursos técnicos no Senai e outras instituições de ensino profissionalizante voltados para o setor.

Um dos cursos de especialização em engenharia ferroviária é o da PUC Minas. Segundo dados da instituição, desde o primeiro semestre de 2001, formaram-se 169 alunos em sete turmas. O curso é uma parceria da universidade com a Vale e é in company, ou seja, não atende ao público externo, apenas a coloboradores da empresa.

Os profissionais da área também esperam por maior profisisonalização do setor. “Atualmente vivemos uma carência de profissionais, uma vez que o Brasil ainda sofre com a desestruturação do setor ferroviário. Com a retomada do crescimento da ferrovia, esperamos ter o retorno da formação profissional”, argumenta o presidente da Associação de Engenheiros Ferroviários (Aenfer), engenheiro Luiz Lourenço de Oliveira.

Fonte: www.cimm.com.br

http://cimm.co/NMd9dt

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