O grupo Cosan vai definir até o fim do ano sua entrada em operação portuária nas áreas de grãos, fertilizantes e celulose. A companhia, que quer avançar no setor de infraestrutura no País, tem sobre a mesa projetos “greenfield” (construção do zero) e “brownfield” (em operação) para expandir sua atuação no porto de Santos (SP), o maior da América Latina. “Estamos analisando essas concessões e também devemos definir nos próximos meses nossa entrada como operadora ferroviária independente”, afirmou ao Estado Júlio Fontana Neto, presidente da Cosan Logística.
Esses projetos integram o “plano B” da Cosan, uma vez que o grupo negociava sua entrada no bloco de controle da América Latina Logística (ALL). Contudo, as conversas com a companhia férrea, que tiveram início em fevereiro de 2012, foram interrompidas de vez em agosto último. O grupo tinha feito uma oferta de quase R$ 900 milhões para a compra de 49,1% das ações representativas do bloco de controle da companhia ferroviária, o correspondente a um total de 5,6% do capital total da empresa.
A Cosan tem pressa para colocar seus planos em prática. Sob a coordenação de Fontana, a Cosan Logística tem metas ambiciosas para ampliar sua atuação no segmento de infraestrutura. A companhia já possui dois terminais portuários de açúcar em Santos, que estão sob o guarda-chuva da Rumo, empresa que responde à Cosan Logística.
O grupo mantém negociações com o fundo de pensão Canada Pension Plan Investiment Board para receber um aporte de cerca de R$ 1 bilhão. Os recursos poderão ser utilizados para assegurar os projetos de expansão da companhia nesse segmento. “Os planos de expansão do grupo não dependem desse aporte”, disse Fontana.
Os projetos de operação portuária em Santos em análise pela Cosan contemplam um terminal de grãos, cuja concessão já venceu e que está sendo operado atualmente por três empresas; dois terminais de fertilizantes e outros dois “greenfield” – um deles reúne os armazéns 9, 10 e 11 e o outro o armazém 32, ambos para abrigar um terminal de celulose, segundo informações de Fontana.
Os leilões, de acordo com o executivo, deverão ocorrer até o fim do ano. “Vamos aguardar o edital para analisarmos a rentabilidade desse negócio”, disse. Fontana não informou quanto a companhia poderá investir em projetos portuários. “Cada terminal tem um capex diferente”, afirmou. A companhia não descarta também fazer investimentos em terminais portuários em Paranaguá (PR), mas ainda não há nada definido nesse sentido.
Fontes do setor afirmam que um investimento em projetos “greenfield” em terminais portuários na área de concessão em Santos giram em torno de R$ 300 milhões e de R$ 100 milhões a R$ 200 milhões em operações “brownfield”.
Ferrovias. A entrada do grupo como operadora ferroviária independente ainda está sob uma análise mais criteriosa do grupo sobre os editais do governo federal. “Uma coisa (projeto portuário) vai levar a outra (operação ferroviária)”, disse Fontana. “Não queremos depender de terceiros. Seremos uma empresa verticalizada (não apenas em açúcar), que carrega, transporta e coloca no navio.”
Maior processadora de cana do País, por meio da Raízen – joint venture entre Cosan e Shell -, o grupo, sob o comando do empresário Rubens Ometto Silveira Mello, decidiu expandir seus negócios para não ficar exposto à volatilidade das commodities. O primeiro grande passo dado nesse sentido foi a compra dos ativos da Esso no Brasil em 2008, que pertenciam à ExxonMobil. Dois anos depois, a companhia associou-se à Shell, criando a Raízen, e se tornando uma das gigantes da área de distribuição de combustíveis do Brasil, atrás de Petrobrás (BR Distribuidora) e Ultra (Ipiranga). A companhia também entrou no segmento de lubrificantes, com investimentos pesados.
No ano passado, a companhia anunciou a compra de 60,1% da Companhia de Gás de São Paulo (Comgás), que pertencia à British Gas (BG). Essa operação marcou a entrada da empresa no mercado de gás canalizado no país – a empresa já tinha olhado no passado os ativos da Gas Brasiliano Distribuidora, que pertenciam à italiana Eni e foram arrematados pela Petrobrás). A aquisição da Comgás reforçou a posição do grupo no setor de energia e confirmou, mais uma vez, o DNA do grupo de expandir seus negócios por meio de pesadas aquisições. Dona de uma área de concessão que inclui 177 municípios no Estado de São Paulo, a Comgás atende cerca de 1,2 milhão de municípios.
Ontem, as ações do grupo Cosan encerraram a R$ 44,40, com ligeiro recuo de 0,56%. No ano, os papéis da companhia registram valorização de 7,7%.
Empresa deve voltar ao lucro no 3º trimestre, dizem analistas
A Cosan deve fechar o terceiro trimestre do ano com lucro líquido de R$ 244 milhões, de acordo com a média das projeções de seis instituições financeiras consultadas pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado. Entre os bancos ouvidos estão Itaú BBA, Santander, Citi, BTG Pactual, Credit Suisse e JPMorgan. No segundo trimestre deste ano, a companhia reportou um prejuízo de R$ 198 milhões.
Ainda segundo os analistas, o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) deve alcançar R$ 1,156 bilhão no período. Para receita líquida, a média das prévias aponta para o total de R$ 9,7 bilhões.
Em relatório, o JPMorgan afirmou que o resultado da Cosan será impulsionado principalmente pela Raízen, joint venture entre a companhia e a Shell. O banco reiterou a classificação “overweight” (desempenho acima da média do mercado) para a Cosan e recomendou a compra dos papéis da companhia, com preço alvo de R$ 55.
Segundo o JPMorgan depois de dois trimestres “decepcionantes”, os investidores da empresa parecem estar indecisos quanto ao futuro. A aposta do banco é de uma estratégia de investimento para o longo prazo.
Em relatório, os analistas listaram cinco razões para a compra das ações da Cosan. A primeira delas é a estratégia da empresa no setor logístico, com a controlada Rumo. “Investimentos em melhoria dos gargalos existentes permitirão que a Cosan ganhe valor e amplie a margem, diminuindo os obstáculos enfrentados por transportadores de grãos no Brasil, e fornecerão interessantes canais de ganhos para a Rumo.”
Para os analistas do Citi, a melhora da demanda por combustíveis, com uma recuperação no setor de aviação, permitirá o aumento das margens da Raízen Combustíveis. Para a Raízen Energia, a expectativa é de fortes volumes de açúcar e etanol com a aproximação do auge da colheita. “A recuperação das margens de distribuição de combustíveis e melhor alavancagem operacional na cana-de-açúcar deve restabelecer a confiança do guidance (meta) para o ano”, disseram os analistas Felipe Koh e Juan Tavarez, do Citi.
Em relação à Rumo, o Itaú BBA considerou as maiores vendas de açúcar e as multas pagas pela ALL (por causa do não cumprimento de obrigações contratuais) como positivas para o resultado da empresa logística, controlada pela Cosan.
Em abril, a Cosan alterou o exercício social da empresa, adotando o ano calendário em substituição ao ano-safra (que se estende de abril a março do ano seguinte).
Em 2013, excepcionalmente, o exercício corrente será de nove meses, iniciado em 1º de abril e com data de término em 31 de dezembro.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 05/11/2013
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